quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Inesperado


É sempre o inesperado que vem me sacudir, se meter onde não é chamado, levantando as hipóteses enterradas a meio pau, eu sei, mas que de certo as coloquei ali para que aliviassem a minha cabeça barulhenta por natureza e, que de tanto conversar de si para si, esgotou-se. Mas o dia não deu trégua e entrou de sola para me alertar que eu escondi muito mal as expectativas e ao invés de tomarem um chá de sumiço assomaram à minha porta com audácia.
Todas elas se apresentaram como relevantes e, talvez o fossem, se não estivesse gravado em algum lugar que eram fruto de um desejo, da imaginação, de faltas que certas coisas nos fazem sem que saibamos exatamente o que representam, pois como sombras, se aligeiram e se oferecem.
A intimidade com tantos sentimentos controversos alardeou que este rol de insensatez premia por uma degola definitiva o que não tem sentido guardar embaixo de poucos grãos de areia de praia  o que poderia ter acontecido e de fato não houve. Torna-se então o mistério o formato perfeito para vivermos a ilusão do que não foi proposto, do que se passou em raspão pela vida, se incendiou tal fogo de palha, como se tivesse pressa de ir embora, ou, como se de repente se arrependesse de ter cogitado as hipóteses imaginadas.
Olhei com mais vagar e descobri que as ilusões se apresentavam como se fosse um jogo de cartas marcadas e assim tomou lugar na fila aquele olhar comprido que parecia esquadrinhar a alma pedindo ardorosamente para ficar no entorno, um sorriso falso que iluminou apenas por um segundo o recinto, o passeio que serviu apenas para chumbar os passos, o alô fora de hora, o pedido de desculpas que não veio, a prosa prometida que emudeceu a fala por falta de afinidade, a espera inútil, o arrevesado da proposta. Foi assim, como se corresse para o abraço no vazio.

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