Se existe alguém que me arrebata para outro
plano, que me tira do sério no bom sentido, que destrói qualquer pensamento
nefasto, que joga em cima de mim toda a adrenalina que me faz falta às vezes,
que me faz sorrir mesmo chorando, que enfeita o dia mesmo sendo ele de certo
modo negro, que me deslumbra, que me esfria e me aquece e que me tira do
sofrimento frente às agruras da vida – verdadeiras e imaginárias – este cara, é
o mar.
Os meus olhos, que estão sempre apontando
para o ermo com esta sede de enxergar o oculto, o não dito e o mistério, nunca
se cansa de, ao abaixar as pestanas o encontrar sempre disponível, com a sua
imensidão de água salgada disposta a derivar seus humores, a refletir a vista na
janela, a se solidarizar se por ventura naquele dia minha alma está abaixo da
crítica.
Ele concorda com todos os meus estados
humorais, se traveste de cinza se circunspecta estou, se alevanta nas tamancas
de ondas se resolvo me enfurecer, enrubesce de cor achocolatada se não posso
fazer-lhe as honras em minha caminhada descalça, se vinga em grandes vagas se
me percebe indignada com o meu destino desde cedo e ouso dizer, que muitas
vezes, ele me acompanha na alegria e na tristeza sendo que o vice versa
acontece de pronto.
O que mais me encanta nele é o fetiche que
ele mesmo se impõe de possuir uma vida própria, como se não fosse a lua e os
ventos dos quadrantes a lhe guiar em suas marés, como se os seus movimentos
mais viscerais não dependessem do clima, como se todas as suas danças não
fossem orquestradas por outrem. Em sua vastidão ele gosta de enganar a si mesmo
e vai assim, vivendo como a gente, que teima em pensar que os mapas do universo
não guiam nossos passos.
2 comentários:
mar sempre igual...sempre diferente...e o horizonte, o horizonte me esperando, esperando, mas o mar nos separa, sempre igual, sempre diferente...
Mais uma crônica belíssima, que nos remete a um lugar onde nos sentimos bem.
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