Pisei firme naquele amanhecer porque achei
que estava mais do que na hora de deixar aquele sitio que me fazia todo santo
dia enxergar a mesma coisa, ouvir as mesmas palavras, talvez com certa
variedade nos erros de português que assim, no susto, me entupiram os ouvidos e
pela tampa gritei chega.
Além de estar sempre com maresia nas ventas
eu também andava descalça e, de tanto assim trilhar me feriram os pés quase que
sem sentir. As fissuras nem rendiam dor porque andar estava por ali como se
respiro fosse. Assim era, conversa boba e roseta nos calcanhares.
Dei-me conta que na mudança eu não havia
percebido que os novos caminhos, além de conter a delicia da areia fina de
praia continham igualmente pedras pontiagudas, conchas partidas, cascalhos nem
tão limados pelo tempo, e deste jeito - dramática como sou - me fui
despudorada, olhando somente para frente e para o alto sem me atentar que
existe o terreno e este, nem sempre faz deslizar manso.
Acabei com inacreditáveis feridas nos pés que
pensei que se parecia com as gretas da alma por se apresentarem tão finas e com
desenhos milimétricos e contraditórios em sua essência porque, ao mesmo tempo
em que as feridas abertas ao sangrar têm o benfazejo curativo que estanca de
certo modo a dor, as feridas da alma não conseguem este alcance, assim de
imediato.
Mesmo assim segui andando com uma ou outra
atadura, o que se faz normal quando se opta pelos caminhos de certo modo nem
tão bem feitos para se enfrentar a vida que segue ali, toda direitinha, emperdigada
e com os algoritmos alinhados.
Não foi o mesmo com o fundo do meu ser, que
ao se perceber alinhado com o sofrimento de uma razão inteira não obteve
curativos que pudesse cicatrizar tantos, e ao mesmo tempo, tão poucos dilemas.
Minha inquietude surgiu dilacerada e à mercê de mim mesma que agora tinha por
honra dar-lhe algum sinal de costura das chagas, lavar delicadamente os cancros
, fechar-lhe as feridas com delicadeza porque em se falando de sentimentos o
que se pede é singela cura.
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