Não pensei muito naquele dia porque eu tinha
urgência, muita coisa me esperava após o bater de portas que hoje percebi que
vieram muito silentes, quase imperceptíveis, e então deste jeito e assim, as
janelas, as frestas, os buracos, os vãos, se mostraram a mim travestidos de
novas oportunidades parecendo ali, naquela hora, que zombavam de mim por ter
sido tão cega.
Eles se apresentaram como pontos de luz
difusa, uma claridade que nunca havia visto, com reflexos parecendo cristais
que se dirigiam a tantos nortes que me deu uma quentura na alma, que eu tenho
certeza, somente oportunidades genuínas poderão te remeter.
Ser cega, às vezes, somente se parece com não
ter a noção exata de quem está em frente. Parece tão fácil conhecer o que está
ali, mas basta um ponto para que o castelo de cartas desmorone, e assim, a
intenção sempre camuflada apenas confere a linha dura que estava sendo imposta
e desta forma se consolida uma arte que não é o direito, mas sim o avesso.
Então, pensei que eu poderia agora pensar
dentro de um espaço com aberturas que me fizesse crescer, que me desse
oportunidade de saber mais e melhor, de olhar e ver sempre outra coisa, não me
entrevar ou me deixar comandar por inúmeros. Vou libertar-me de falsas frinchas
que pretensamente apontam para um todo, mas inequivocamente estão com os dardos
apontados em outra direção.
Olhar com mais vagar todo o dia a mesma
paisagem e ver diferente. Ter na cabeça o propósito de enxergar tudo, mesmo sem
avistar o norte, costurar tanto o lado avesso que ele pareça direito, esmurrar
o vento na diversão, acreditar que sempre é para valer e então, de agora em
diante vou passar sem deixar vestígio que não combine comigo.