Circulei com audácia por entre panos dobrados
e achincalhados porque era naquele monte enredado, colorido, arrevesado, que eu
deveria me ater naquele momento, e enxergar a tarefa apontada para mim como uma
garrucha prestes a detonar. A primeira coisa que eu me determinei a fazer foi
espalhar pelos arredores do cômodo - pequeno - as peças que assim, neste
formato, perderam de fato seu brilho, seu estilo, seu glamour e assim relegadas
ao chão, algumas foram pisoteadas sem dó nem piedade. Havia uma certa pressa em
organizar, em colocar os pontos nos is, em separar o joio do trigo e triunfar
no final do jogo jogado pela vida que se atrevia a encarar de fato a mudança.
A organização não primou pelos materiais, mas
sim pelo significado, e ahhhhh significar é tudo o que se mais quer, o desejo
de se apresentar frente ao outro com relevância, a audácia de ser importante
entre outros mais e, claro, o ponto alto é ser indispensável. Caindo em mim, fragorosamente,
dei-me a perceber que os tantos amontoados se configuravam apenas como panos,
por estarem assim espalhados no chão, dando um viés de sem serventia aparente, desqualificados
e sem propósito. A constatação me fez sentir que este era o momento em que o
espaço pedia passagem aos berros e eu ali, com os braços estirados ao lado do
meu corpo, relutava em conhecer a verdade.
E assim, um pouco desatinada e sem saber como
cumprir com a tarefa, me joguei furiosamente ao acumulado de vestes que
compunham meu figurino desde alguns anos, a bem da verdade. Então foi bem bom
lembrar quando a minha fome de variação se extinguiu, se escafedeu, foi pro
saco e entrou triunfal a resolução da hora que constava em ter o manequim
conservado para que para sempre pudesse vestir todos aqueles trapos.
Para grande alivio fui intercalando o
arremate do acervo com sorrisos de despedida para algumas peças que já se
acumulavam em montículos com destino certo. Agora, não preciso mais me
perguntar com que roupa eu vou, mas sim decidir qual modelito eu “carrego bem.”
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