sábado, 17 de setembro de 2016

Cinco minutos


Os dias são recheados de cinco minutos e andamos com este refrão contante sem nem ao menos pensar no que estamos nos impondo e a pegada é no escuro. Parece que naquela montanha imaginaria de minutos somos empurrados a fazer o que nunca ninguém fez, a realizar a primeira tarefa do dia mais rapidamente do que de costume, a pular aquela reflexão porque a premência nos rouba a alma, porque se não for agora, não será.

E de tempos em tempos vamos formando nosso dia, sem olhar nem para frente nem para trás, apenas tendo em mente que a fila anda e que ninguém espera sua vez chegar. O movimento é sem apuro e deste jeito fica difícil imaginar que muita coisa que se apresenta vai ficar sem resposta, sem nem uma vaga ideia do propósito real de tantas requisições. Cinco minutos aparecem como facas no pescoço, ou como uma corda que pressiona o impulso parecendo muito despretensioso.

Os minutos muitas vezes vêm bombear a urgência diária, mas não se tem aferição do porque de tanta inquisição para um momento em que nada urge. Nos somados segundos em que o sol acaricia o mundo e rosna um bafão nas terras mais minguantes não é o momento mais assertivo de não pensar. O tranco tem de aparecer porque o momento prima neste sentido.

E sempre naquele momento em que se debate a forma ou o gosto do realizar rápido, seja uma felicidade, seja um pecado, seja uma bobagem. A coragem está ali bem assertiva marcando com força a celeridade que estabelece uma linha tênue onde o tudo e o nada podem acontecer. Não tem meio termo quando a fobia aparece.

Então, no calor do desejo de em nada pensar, no rompante momento em se livrar e deixar fluir o seu melhor sem amarras, de não deixar que nada interfira, de pensar que a vida é isso, os cinco minutos se transformam em caudaloso medidor do tempo onde acontece uma bobagem, uma gafe, um risco.

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