domingo, 25 de setembro de 2016

Uma brecha


As circunstâncias estavam muito favoráveis e talvez fosse necessário mudar o rumo do que até agora foi feito, apesar de que sempre que se engata a marcha, impossível desacelerar, depois de sempre sorrir, impossível chorar, depois de gastar-se em atenção constante, emudecer parece trágico, depois de sempre relevar, subir o tom é ficar sem voz, depois de nunca se melindrar, ajustar as razões parece agressão. E as desculpas para lá de esfarrapadas iam sepultando as intenções de mudança.

Mas era por ali que o começar aconteceria, uma vez que tantos fatos se apresentassem com uma verve indecorosa que era impossível não lhe dar atenção. E foi nesse caminho de observação que o tudo ou nada se oferecia e não havia meio termo porque o tempo passara, e tudo já estava desarrumado como sendo um aviso para o desembarque.

Assim também se tornara inválido trocar de lugar os fatos porque enviesados já estavam, em alguns o foco se apagara e em outros a luz constava exuberante, talvez porque aqueles continham uma história mais virulenta, mais aguerrida em consolidar-se. Pelos lados, ocasiões de somenos importância que jaziam na espreita coroados pela luz difusa deste breve resvalo na impotência.


Parece estranho tentar reverter ditas verdades, mas a premência está fixada na limpeza de tudo o que ainda se mantem de pé, os lances que não fazem sentido, que não favorecem que não acrescentam que não trazem alegria. O pano da faxina conduz a mão ao invés de ser o contrário, porque de tudo estar tão claro agora os acontecimentos se descolam daquela via, se extraviam estonteados por não terem mais propósito, se jogam desmilinguidos por não terem significação na exorbitância e no desatino. Tudo vai sendo relegado ao efêmero que capricha na depuração e agora restam insólitas palavras soltas, frases sem nexo, sofreres sem propósito, desgostos desativados. Uma brecha para não ser mais preenchida.

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