Um alô! simplório abre uma porta radiofônica e
muitas vezes entra uma linha cruzada sinistra e deste jeito se estabelece uma
conversa de loucos como tantas por aí, se entrelaçando misteriosas e desconexas
para o não convidado, que busca entender aquele diálogo que surge no meio de um
dia em que a intenção era buscar uma conversa alhures com alguém, que inclusive
já aguardava a ligação. Mas o destino foi mais forte e levou para longe o
propósito.
Emudecer de curiosidade e ficar ouvindo o que
os outros falam como se fosse premente estar ali, coloca na vista uma onda
magnética de indiscrição e medo. Sem nem respirar, o intruso engole as estórias
alheias e os mexericos obviamente incompreensíveis para quem está de fora. Telefonemas
anônimos eram comuns e a paixão platônica surgia através do timbre de voz e
assim se derretiam as fronteiras do cuidado e arrombava os contos absurdos
fazendo reféns do fio condutor da conversa alheia.
A baliza de intersecção de conversas evoluiu
com a destreza e descaramento inominável tornando desconhecidos, alvo e
pontaria, unidos e separados, ativos e reféns, que negligenciam o propósito da
troca, que escarnecem da realidade se formando uma massa crítica para o que
vier. Sem acordo, sem proposta e com a única bandeira de si.
Por onde anda a verve que reúne uns tantos em
torno de vários e que, para que haja entendimento, cada um tem a sua vez de se
posicionar, de falar com as mãos, de vociferar com os olhos, de pensar em
segredo, de respeitar sem se imiscuir, de gingar o corpo todo fornecendo assim
a teatralidade do conchavo, refrescando as ideias, alegrando o convívio,
articulando novos temas.
Em nenhuma praça os encontros misturam o
apoteótico da razão com a vivacidade do discutir, do dilacerar argumentos com
tanta abundância que os posiciona em mergulhos profundos de oportunidades. Várias
leituras para tantos temas.
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