Pensei em toda a intimidade que cerca sem
piedade tudo e todos a cada momento, mais ou menos especial, e destaquei que,
quando menos se espera, ela se vai, fica sem serventia, sem a cola
imprescindível que conecta assuntos dos mais diversos.
As oportunidades de se estabelecer uma
relação que se aproxima naquela exata hora em que se imprime a necessidade,
surgem do nada, muitas vezes em solitário pensar ou em meio à multidão onde
todos falam ao mesmo tempo, ou falam nada com nada, ou pior ainda, falam
bobagens, ou nem falam ou cada um fala por si.
Então fiquei ali, mal sentada, na expectativa
de corroborar com tantas necessidades de expressão que se somavam ao tempo
acumulado, ao monte de palavras que andavam soltas, mas agora se conectavam
dentro de mim e ansiavam por demonstrar sua força em investigar, em saber por
onde, em tentar resolver, em perguntar e talvez, ensaiar aquela proposta que
mora em mim.
O desajeito se firmava e a eloquência
inverossímil me flechava como pontos mortíferos a se pensar na única
oportunidade que ali se apresentava. Quebrar um silêncio era tão importante
quanto calar antes da hora, quanto vociferar na hora errada, abandonar a causa
sem nem ter entrado nela. Senti o meu sonho se apresentar com audácia na minha
garganta, e, como toda fantasia vinha enfeitada de dúvidas, carregada de
inspiração e enlouquecida para mostrar a cara e encarar a reação. Assim é
quando se entra na claraboia da intimidade. Tudo, aparentemente, tem o mérito.
Mas, para mim, em se entrando na ocasião mal
lembrada, premia completar a lição aprendida a duras penas. Ansiada por tão
espúrias metáforas e carente de arrebentar o impreciso, nesta hora tudo parecia
um deleite ao meu arroubo de leniência, meu fraquejar por não dar conta de ter
uma voz mais alta e uma boca tão leve que soletrasse meus argumentos como se
uma valsa dançasse.
Infeliz, dei-me conta que não era a voz que
me faltava, nem os tantos argumentos insanos que a mim pareciam válidos, mas
que somente a mim se apresentavam. O lacre para indenizar a dita conversa
morava na familiaridade que naquele momento estava indisponível.
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