quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Intimidade


Pensei em toda a intimidade que cerca sem piedade tudo e todos a cada momento, mais ou menos especial, e destaquei que, quando menos se espera, ela se vai, fica sem serventia, sem a cola imprescindível que conecta assuntos dos mais diversos.

As oportunidades de se estabelecer uma relação que se aproxima naquela exata hora em que se imprime a necessidade, surgem do nada, muitas vezes em solitário pensar ou em meio à multidão onde todos falam ao mesmo tempo, ou falam nada com nada, ou pior ainda, falam bobagens, ou nem falam ou cada um fala por si.

Então fiquei ali, mal sentada, na expectativa de corroborar com tantas necessidades de expressão que se somavam ao tempo acumulado, ao monte de palavras que andavam soltas, mas agora se conectavam dentro de mim e ansiavam por demonstrar sua força em investigar, em saber por onde, em tentar resolver, em perguntar e talvez, ensaiar aquela proposta que mora em mim.

O desajeito se firmava e a eloquência inverossímil me flechava como pontos mortíferos a se pensar na única oportunidade que ali se apresentava. Quebrar um silêncio era tão importante quanto calar antes da hora, quanto vociferar na hora errada, abandonar a causa sem nem ter entrado nela. Senti o meu sonho se apresentar com audácia na minha garganta, e, como toda fantasia vinha enfeitada de dúvidas, carregada de inspiração e enlouquecida para mostrar a cara e encarar a reação. Assim é quando se entra na claraboia da intimidade. Tudo, aparentemente, tem o mérito.

Mas, para mim, em se entrando na ocasião mal lembrada, premia completar a lição aprendida a duras penas. Ansiada por tão espúrias metáforas e carente de arrebentar o impreciso, nesta hora tudo parecia um deleite ao meu arroubo de leniência, meu fraquejar por não dar conta de ter uma voz mais alta e uma boca tão leve que soletrasse meus argumentos como se uma valsa dançasse.

Infeliz, dei-me conta que não era a voz que me faltava, nem os tantos argumentos insanos que a mim pareciam válidos, mas que somente a mim se apresentavam. O lacre para indenizar a dita conversa morava na familiaridade que naquele momento estava indisponível.

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