Eu tinha um ponto de luz bem no alto da cabeça, bem no meio
do meu cabelo repartido de então e isso me deixava sempre em dúvida se eu
estava ficando mais inteligente, mais alumiada ou se era apenas reflexo do dia.
Do dia não podia ser porque ele se prateava a noite e não se apagava, e parecia
que queria me dizer que veio para ficar e eu pensava que talvez ficasse pior.
Larguei a refletir que ele traria companheiros aclarados
que viriam até o topo da cachola para demonstrar sua união e força dando-me uma
lição bem feita em relação ao tempo passando, o que não me importa nem um pouco
porque significa que alguma coisa está sempre acontecendo, ao revés, de lado e
talvez para trás.
Continuei a ignorar os pontos, mais porque não tinha paciência
de ficar na frente do espelho me examinando e também porque não havia mais
novidades neste semblante que me pudesse surpreender. Já conheço de cor o
caminho que os sulcos irão propor, para que lado vão se esgarçar e até imagino
muito bem que o meu sorriso vai ficar de um jeito diferente uma vez que ele vai
compor um traçado cada vez mais testado, com muitas novas linhas o circundando
deixando a feição suave e esmaecida.
O ponto a cada dia se expandia e, como eu havia previsto,
já contornava o meu rosto com parcimônia no início, é verdade, aguçando a
percepção de que eu estava ficando de cabelos brancos e estes invadiam a cada
dia minha cabeleira crespa com muita autoridade.
Neste momento, por um tempo,
lutei quimicamente contra eles, porém, ao perceber que a luta era inglória e
que eu estava sempre em campo de batalha resolvi aceitar o que vinha e assim
aprendi que algumas coisas que o avanço da idade nos oferece não precisam e nem
devem ser controladas.
Vou deixar meu cabelo com o seu jeito sugerido e de agora
em diante enxergá-los como pontos de luz que iluminarão minhas noites insones,
refletirão minha experiência no espelho e servirão de moldura nos porta-retratos
demonstrando a singeleza da minha idade.