Até agora não fui feliz nos
pacotes que a vida me entregou este ano, mesmo que eu tenha me esforçado em
enxergar de fato o que me aparecia com bons olhos. Aceitei tudo o que veio na
maior paz e fui deslindando com certa curiosidade, mesmo antevendo que a estória
já começava de lado. O que seria da gente se refutasse tudo o que passa pela
frente. Há que se deitar o olhar, andar um pouco junto e depois, lá na frente,
rumar para outro caminho se assim melhor convier ou aparentar.
Vai daí que recebi um
inusitado embrulho com generosas camadas de papel e papelão o que me deixou
curiosa em seu conteúdo. Fiquei ali parada, olhando. Não esperava por uma
situação tão concreta e apesar de imaginar o conteúdo fiquei temerosa em abrir,
mas me enchi de coragem e o resgatei.
Fui retirando as tantas
camadas do invólucro até chegar ao meu velho livro e revistas que havia
emprestado, já nem lembro para quem, e também não pude descobrir uma vez que a
encomenda chegou sem remetente, um fato curioso que me levou a pensar que alguém
se acovardou na linha de chegada. Portanto, fiquei no ar imaginando em que
lugares meus pertences andaram, em que mãos se assentaram, quais olhares
recebeu e em que colos repousaram.
Com sofreguidão e muito amor
abracei o livrão fortemente contra o peito – um dos meus preferidos – e me pus
a folhear as páginas já amareladas. De soco percebi que havia um cheiro
peculiar rescendendo daquelas páginas, mais adiante me caiu aos pés uma pétala
de rosa muito vermelha desidratada porém com seu perfume original, em uma
das viradas havia num cantinho o papel enrugado que talvez tivesse recebido
algumas lágrimas salgadas de paixão e bem no finalzinho, um ramo de arruda,
muito amarelo, como um coração decepcionado. Desencorajei de folhear as
revistas uma vez que estas já foram marcadas por dentro e por fora com minha
opinião. Eu não queria me confundir.
Com muita delicadeza abri o
espaço na prateleira a qual o livro pertencia e o empurrei suavemente ao
encontro dos seus pares. Agora vou esperar um período e ver o pó se instalar
com suavidade pelas lombadas e daqui um tempo descobrirei se aquelas mensagens
românticas foram apenas um desejo meu ou se as páginas voltaram desnudas de
sentimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário