domingo, 4 de maio de 2014

Vermelho





Chovia muito naquele dia, mas não vi a água escorrer generosa orvalhando todas as flores e folhas dos parques nem lavar a rua que com sofreguidão bebia suas gotas, pois, nestas bandas, e nestes tempos, estão escassas. Não enxerguei como deveria a limpeza que ocorreu depois de trovoadas e luzes atmosféricas para todo o lado. Não via nada que o tempo queria me mostrar me sentindo cega à realidade.  

Surpresa e com medo fiquei encolhida em um canto aguardando que a fúria dos céus se acalmasse e eu pudesse enxergar a natureza. Foi em vão meu esforço de voltar uma vez que escorria para todo lado meus pensamentos desconexos e quanto mais eu me punha a ordená-los, mas difícil ficava. Ao puxar para perto de mim o descaso e tentar corrigir o rumo ele riu da minha intenção e como um alerta se transformou em uma poça caudalosa vermelha me dando o aviso que não adiantava mais, o estrago estava feito. Melhor se desfazer em um formato fácil de escapulir. 

Correndo pelo mesmo cabedal retinto veio junto ao descaso o esforço empreendido na costura de assuntos que variavam em um colorido sem igual com capacidade de preencher horas de conversas aleatórias e por um momento, bem curto, imaginei que seria por este caminho que eu iria andar e, de fato, rumei com confiança.  

Percebi então que sob a guarda da minha mente estavam instalados muitos outros pensamentos que aparentemente se desencontravam na ida, mas que ao voltar se reuniam e desciam misturados. Talvez porque estivessem tão enredados que da situação não conseguiam sair e por este motivo se fundiam e escapavam de mim também em cor escarlate.  Reunir emoções extremadas é o primeiro passo para deixá-las ir.


Um comentário:

Anônimo disse...

Cada vez mais gosto de ler tuas cronicas....
Beijos Carmen.

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