Chovia muito naquele dia,
mas não vi a água escorrer generosa orvalhando todas as flores e folhas dos
parques nem lavar a rua que com sofreguidão bebia suas gotas, pois, nestas
bandas, e nestes tempos, estão escassas. Não enxerguei como deveria a limpeza
que ocorreu depois de trovoadas e luzes atmosféricas para todo o lado. Não via
nada que o tempo queria me mostrar me sentindo cega à realidade.
Surpresa e com medo fiquei
encolhida em um canto aguardando que a fúria dos céus se acalmasse e eu pudesse
enxergar a natureza. Foi em vão meu esforço de voltar uma vez que escorria para
todo lado meus pensamentos desconexos e quanto mais eu me punha a ordená-los,
mas difícil ficava. Ao puxar para perto de mim o descaso e tentar corrigir o
rumo ele riu da minha intenção e como um alerta se transformou em uma poça caudalosa
vermelha me dando o aviso que não adiantava mais, o estrago estava feito. Melhor
se desfazer em um formato fácil de escapulir.
Correndo pelo mesmo cabedal
retinto veio junto ao descaso o esforço empreendido na costura de assuntos que
variavam em um colorido sem igual com capacidade de preencher horas de
conversas aleatórias e por um momento, bem curto, imaginei que seria por este
caminho que eu iria andar e, de fato, rumei com confiança.
Percebi então que sob a
guarda da minha mente estavam instalados muitos outros pensamentos que
aparentemente se desencontravam na ida, mas que ao voltar se reuniam e desciam
misturados. Talvez porque estivessem tão enredados que da situação não conseguiam
sair e por este motivo se fundiam e escapavam de mim também em cor escarlate.
Reunir emoções extremadas é
o primeiro passo para deixá-las ir.
Um comentário:
Cada vez mais gosto de ler tuas cronicas....
Beijos Carmen.
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