domingo, 18 de maio de 2014

Maratona



Um pouco atrasada, me embarafustei no corredor livre da rua que recebia milhares de pessoas viciadas em esporte e que, provavelmente como eu queria beber na fonte do elemento viciante que é a endorfina que numa prova destas entra direto na veia, coisa que somente o esporte de longa duração pode ofertar. Eu e todo mundo precisávamos de força nas pernas e mente tranqüila para aceitar que cada passo nos leva ao fim. 

Pedalando, segui a massa resfolegante e percebi que uma maratona esportiva dentro da cidade é como transitamos na vida, às vezes andamos na contramão, outras temos que solicitar que alguém faça um stop no sinal para podermos passar, em outras horas, temos que desacelerar e dar espaço ao parceiro uma vez que talvez ele esteja em melhores condições físicas ou de ânimo. 

Seguindo adiante me emocionei ao ver dois homens correndo com uma fita enlaçando seus braços e constatei que um levava o outro, que era cego. Neste momento pensei na generosidade que assola competições, onde o corpo pretende superar seus próprios limites estabelecendo uma linha muito tênue entre o esforço físico e o mental. Se não se tem cabeça, não se tem perna. 

Continuei me enrolando entre competidores, me solidarizei com os simpatizantes nas bordas das calçadas que incentivavam a turba, com os treinadores de equipe que gritavam palavras de ordem para seus competidores, e estes, a cada berro, levantavam a cabeça e com o rosto esgarçado de dor saltavam o olhar para o objetivo que iriam alcançar. Gravei seus rostos em sofrimento quase na linha de chegada. 

A lição do dia é que a vida é igual a uma maratona. Preparei-me para as medalhas, mas talvez o treino não fosse o suficiente e aquela queda no meio do caminho foi um aviso que na próxima haverá desafios maiores, como se o meu corpo massacrado e em pedaços não bastasse.

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