terça-feira, 8 de julho de 2025

Adeus

 


Faz um tempo em que, determinada, dei duas voltas na chave, virei as costas e desci a escadaria com meus pés flutuando no limbo do tempo com a minha atenção focada na estrada de uma escuridão aterradora, vazia de movimento, com apenas o ruído cadenciado da batida do meu coração que, em suspenso,  sequer ousava imaginar o que poderia vir pela frente. A estrada vazia e silenciosa parecia reverenciar a nova jornada, dando-me passagem.

Cheguei ao meu destino nas asas de Deus e na espera uma nova casa que caprichosamente aceitou o que minhas noites insones me assopraram como relevantes, me obrigando a descartar as inutilidades e em primeiro lugar, os meus piores pensamentos, as lágrimas vãs, os amores perdidos, a esperança sem fundamento. Secretamente se imiscuiu na minha bolsa de mão todos os sorrisos, a conversalhada solta, a juventude, a conversa da criança, a vizinhança, o cheiro do café, do churrasco e dos abraços em família.

Embarcada para o sempre percebi que se esvaíram pela ventarola do carro a fuligem, o trânsito, a irrelevância imperativa de tudo, o ar rarefeito, a prioridade de revés e, por fim, o abandono do ladrilho de janelas.

Abro os olhos todos os dias e me encontro com o grande Oceano a minha espera. Ali está ele, sempre pronto a me surpreender. Entrevejo os seus olhos matreiros querendo que eu adivinhe qual a valsa que ele dançará neste dia que promete ser iluminado. Em outro se diverte quando me assombro por vê-lo tão calmo enquanto meu coração sofre sobressalto, se anima em muitas ondas quando me percebe pensativa, se faz de bobo e amortece sua fúria quando a lua impera desde o horizonte e para me provocar se suja nas algas escuras. Esta vida frente ao mar é sempre diferente sendo igual.

 

 

 

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo Amiga! Doce como a Vida! Parabéns!😘😘😘

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