domingo, 23 de março de 2025

Escreva

 

Nem bem nasceu o dia recebo aquela chuva de letras como se o alfabeto forçasse as tramelas de portas e janelas vindo direto ao meu pensamento ainda preguiçoso na madrugada. Além destes personagens que adoram se enganchar um no outro formando todo o tipo de conversa, do bem e do mal e do mais ou menos, os números veem a reboque e acredito piamente como os grandes torturadores do dia.

A contagem começou, a verborragia só está aquecendo os motores e assim entramos no dia submergidos em letras, números e toda a companhia intrincada que eles conjugam assim que acordamos formando fonemas simplórios que apenas querem fazer sentido para o pensamento, a criação, o verbo.

Esta turminha não vem silente, vem como se fosse um algoz para quem tem nas veias o bom trato com computador, a caneta que dia sim outro também, arruma a escrivaninha metodicamente colocando páginas em branco a serviço do rascunho, apontadores e lápis devidamente ajustados na ponta fina, borracha bem grande para derrubar um ou outro desatino no vocabulário e assim está completa a  batalha campal entre o desejo e a inspiração – esta tirana – que brinca de esconde esconde com as distrações diárias que enfrentamos.

Escrever todo dia apenas uma ou duas frases que traduzam um sentimento para o amanhecer, ou o entardecer, trazendo um norte para ações na sequência, tirando a mente de pensamentos enfarpelados como as ondas de um mar bravio desbravando a folha em branco que inocentemente aguarda tornar pública uma prece, uma desculpa, um poema, um bilhete, um pedido de socorro, uma fala divina.

Um comentário:

Tina Griebeler disse...

Lindo, minhas inspirações, poucas, mais na área do jornalismo também chegam assim. Às vezes, rápidas, outras, se montando de leve,letra por letra

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