Mirei em cima do poste naquela manhã e não
deu outra, aqueles dois estavam iniciando a faina da construção bem no topo
onde, para um lado eles miram a serra com seus contornos chapados no céu e para
outro, o mar, aquele sujeito temperamental que a cada dia manifesta seus
humores de maneira totalmente imprevista. Um pouco mais abaixo um córrego
trôpego com a lama necessária e o esterco de mais um e outro que vai servir em
seus voos rasantes para que a casinha se faça de fato. Pelas beiradas, como um
brinde, palhas, galhos secos diversos, penas de pássaros despossuídos e o mais
que se possa utilizar para cimentar a casa entrincheirada e bem colada em um
lugar privilegiado.
O olhar, ao contrario da passarada, que está
sempre de sobreaviso nos quadrantes, voa para o horizonte pensando sempre no
que virá depois de agora e não propriamente na tentativa – pelo menos – de se
acercar de todas as ferramentas que a vida dispõe para construção dela mesma.
Assim vão salteando as tarefas no afã de dobrar a próxima esquina e se deparar
com mais uma oportunidade, um desafio, mais uma chance de nada saber, porém é
para lá que aponta um destino.
Uma contumaz cegueira nos endurece o pescoço
que nem se dá conta que a vista não passeia pelo entorno com calma, para
absorver os recados da natureza, neste dia especifico, que nunca mais será o mesmo.
Não se agacha para analisar o solo que pode conter elementos de beleza ímpar,
alguns com brotos à mostra e outros na secura do fim da vida. Na caminhada
sôfrega as pedras do caminho não se agigantam para dar seu recado e sim se recolhem
ao solo com a esperança de que pousemos o olhar na trilha apontada que se
mostra promissora e simples.
E assim vai o dia a dia, antecipando o fim
antes que o começo se instale, aproveitando a fartura passageira esquecendo que
a penúria existe, olhando tanto para o fim da estrada que se esquece de que a
passagem deve ser agora e assim, de tanto pensar no amanhã não vê o dia findar.