domingo, 20 de novembro de 2016

Sombra


Foi numa manhã comum que acordei virada do avesso e tudo o que me vinha à cabeça era o contrário do que eu pensaria em um dia corriqueiro e, assim, fui me aquietando para tomar pé da situação e verificar como eu poderia voltar ao normal deste caminho que me apontou o alvorecer. Segui firme na maratona deletada porque ali se apresentava o desconhecido e a falta de lembrança de quem eu era parecia apenas um detalhe.

Minha cabeça não doía, porém eu sentia que ela estava em um vácuo, uma lerdeza como se eu estivesse em um ambiente amornado e quieto. Nenhum pensamento dos que normalmente me perseguem desumanamente, e assim fui me dando conta que em muitos outros aspectos havia ausências. Meu olhar não se movia para quase nada, meu corpo se movimentava tão lentamente que parecia que estava flutuando e assim acompanhava o ritmo meus braços, pernas e pés.

Fui me procurar no espelho e não me encontrei, então baixei os “flaps” à espera de tentar enxergar o que poderia vir pela frente porque me parece, assim de pronto, que hoje minha missão é fazer tudo o que não está escrito no meu gibi. Virada em fantasma de mim iniciei a imaginar como será este dia em que eu não existo.

Para começar vou fazer jejum porque comer dá trabalho e sempre me perco entre panelas e deste jeito a cozinha encontrou a minha falta e do meu arremedo de cheff. A história de pular direto da cama para cima da bike e pedalar alucinadamente contra o vento, o frio e a maresia fica sendo uma hipótese totalmente afastada. Optarei, sim, por pular da cama e chegar à beirinha da praia, de pés descalços e pijamas para fotografar o sempre inédito nascer do dia.

Depois disto também achei que não devia chegar perto de eletroeletrônicos nem com os olhos, nem com as mãos e assim me ausentei da vida que hoje se traveste como sendo ela através da parafernália. Percebi que não tinha mais para onde ir neste estado e foi ai que eu tive a lembrança de me tornar uma sombra, que vagaria por entre tantos, surripiando conversas, sendo abelhuda, pairaria em meio às multidões tão translúcida como eu estava me imaginando. Passei em frente ao espelho para ver se eu havia voltado e lá estava minha sombra em nova silhueta. 

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