Peguei a banda debaixo para não atrapalhar a
vista uma vez que as ruas estão tomadas pelo inverno e tudo por ali fica
diferente. Meu foco são as pessoas que transitam pelas calçadas e para mim,
cada uma delas está contando a sua estória. Começo o Raio X pela vestimenta num
geral, passo para a cabeça, cabelos e sapatos, mas sempre me vejo curiosa em
seus rostos. Quero saber o que estão sentindo, pensando, querendo.
Mirei no vai e vem em frente ao banco mais
popular e não me surpreendi ao identificar pernas mais enfraquecidas, olhar
mais desbotado, uma completa lerdeza nos movimentos que denuncia a parte da
população que pendurou as chuteiras da vida, que vestiu o pijama e a janela
para a rua é sua distração. Alguns escutam radio, outros leem o jornal o dia
inteiro. O mesmo jornal.
As vestes denunciam a falta de vontade de
quase tudo, os movimentos parecem estar tracionados para que não falte energia
para dizer o mínimo. O totem tecnológico para a retirada dos proventos já não é
mais tão assustador, porém os dedos que já não são ágeis se enganam, cancelam o
que era para corrigir, apagam o que diz para continuar. A luta é quase
inglória, mas no fim a criatura recolhe as meias patacas e se arrasta para a
porta, que além de pesada muitas vezes é largada de qualquer jeito e haja
destreza para segurar. Enfim, na rua. Se houver companhia na casa será possível
ter um assunto. Se não houver, capitulo encerrado.
O que me atrai em todos os rostos, de ricos e
pobres, de farrapos aos nem tanto e alguns nenhum, é imaginar ou perfazer um
traço a partir da transparência que todo ser humano tem ao desvelar o que lhe
vai por dentro. A vida passada está fotografada nas rugas, linhas e sinais de
nascença que se tornam pontos tão destacados que confunde vislumbrar a cara completa.
Emaranhando isto tudo, se forma o mapa da alma cogitada.
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