A contemplação desta manhã nevoenta tem como
protagonista a maresia que embaçou meus olhos, e mesmo assim resolvi agradecer porque
de tanto buscar um olhar nítido me sinto cansada pela invasão do que não desejo
enxergar. Melhor acomodar minha vista e me valer desta temporária lente
distorcida que por momentos vai disfarçar a vida em uma grande angular que não
se mostra a olho nu.
Posso aproveitar esta falta de foco de hoje
para deixar de lado formalidades, empurrar para debaixo do tapete poeiras que
insistem em se jogar por todo canto mesmo que eu dê um fim a elas
criteriosamente. Também vou colocar embaixo do travesseiro meus episódios de
terror noturno para que façam companhia aos ácaros, porque, certamente se
merecem. Ando achando que seria de muito bom tom ignorar uns e outros que tem
os olhos bem abertos para espiar as vidas sem enxergar seu próprio território
que carece de manutenção.
E assim vou ao encontro de tudo o que não
está em minha frente e com esta visão comprometida posso enxergar o que me der
na telha começando por eliminar o que de nada me adianta, o que me esvazia por
dentro, o que me deixa sem ação, o que me mostra que selecionar faz parte da
vida e que a premissa de hoje é pintar com outras tintas o que se apresenta.
Borradas com certeza, mas com a chance de se ter tudo em outro prisma.
E deste jeito, assim amanhecido, direcionei
meu foco para assuntos que se estabeleceram diante de mim como de somenos
importância, e que eu, na corrida, não lhes dei valor intrínseco. Com certa
surpresa me deparei com conversas que somadas todas as letras não valeram o
esforço do pulmão em se aprontar na resposta.
Do mesmo jeito, todo o esforço em dar
serventia a determinados episódios se mostraram em vão, simplesmente provando
que um olhar fora de foco descobre o que fatos falsamente translúcidos não
evidenciam no momento em que acontecem, porque a vida é feita de lindos “portraits”
que nos alcançam todo dia para montar o álbum que o entorno escreveu para nós.
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