domingo, 6 de novembro de 2016

Zunindo


Nem bem despertou o dia, nem o sol se agigantou no horizonte marítimo quando o soberano dos pampas, o nordestão, passou zunindo na minha janela e dali não saiu mais, inútil pedir para falar baixinho porque eu quero dormir um pouco mais, desnecessário soldar portas e janelas para deixa-lo de fora. De jeito nenhum, ele vasculha cada canto ou fresta e vai passando assim sorridente, fazendo mil estripulias pela casa toda, que ora se fecha e se morre de calor, ora se abre e tudo voa.  

A paisagem, as ruas e a natureza estão todas nas mãos do vento e a beira do mar é onde ele mais se diverte. Primeiro, arribando todas as ondas que sempre tão poderosas e donas de si se enfarpelam e passam o dia se desencontrando, batendo nos cascos de navios errados, esvaziando as redes de pesca, revirando o mar trazendo à tona o entulho insuspeito, enfunando as velas ao contrário, trazendo certo caos à rotina da beira da praia tão cheia de suspiros e desejos. Estes, os mais variados.

A traquinagem não para por aí, porque antes do airoso chegar já se espalhava pela praia tantos guarda-sóis quanto coubessem no estreito, tantas cangas jogadas pelo chão além da impagável cuia de chimarrão recém-feito com erva caprichada e bem fininha bordeando os beiços. Todo o aparato do domingo de sol se desfaz nas mãos da natureza que hoje resolveu radicalizar e tornar os cornos de todos com menos arroubo para um dia de sol.

Os guarda-sóis são os primeiros a se digladiar com ele, tentando manter a dignidade e se estabelecer como aparador do sol de seus donos, mas tudo em vão, são arrastados para todo canto se ferindo ao quebrar seus aros, rasgando suas vestes criadas com os mais esdrúxulos temas da moda.

Não somente eles entram na brincadeira do voa-voa, porque seguindo no propósito de vergastar o que lhe vem pela frente, descabela as melenas das moçoilas, arranca o chapéu dos mais prevenidos, esburaca o chimarrão acrescentando a areia como se fosse chá na bebida preferida das imensas turmas que se acotovelam para curtir um dia, um dia!!!! de praia. Como uma cartada final, a ventania evolui em redemoinhos enchendo de areia os olhos dos que se deliciam em apreciar tantos corpos que circulam seminus. 

Um comentário:

Unknown disse...

Maravilhosa percepção hoje ainda falei deste rico Nordestão.
Abraço

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