Nem bem despertou o dia, nem o sol se
agigantou no horizonte marítimo quando o soberano dos pampas, o nordestão,
passou zunindo na minha janela e dali não saiu mais, inútil pedir para falar
baixinho porque eu quero dormir um pouco mais, desnecessário soldar portas e
janelas para deixa-lo de fora. De jeito nenhum, ele vasculha cada canto ou
fresta e vai passando assim sorridente, fazendo mil estripulias pela casa toda,
que ora se fecha e se morre de calor, ora se abre e tudo voa.
A paisagem, as ruas e a natureza estão todas
nas mãos do vento e a beira do mar é onde ele mais se diverte. Primeiro,
arribando todas as ondas que sempre tão poderosas e donas de si se enfarpelam e
passam o dia se desencontrando, batendo nos cascos de navios errados,
esvaziando as redes de pesca, revirando o mar trazendo à tona o entulho
insuspeito, enfunando as velas ao contrário, trazendo certo caos à rotina da
beira da praia tão cheia de suspiros e desejos. Estes, os mais variados.
A traquinagem não para por aí, porque antes
do airoso chegar já se espalhava pela praia tantos guarda-sóis quanto coubessem
no estreito, tantas cangas jogadas pelo chão além da impagável cuia de
chimarrão recém-feito com erva caprichada e bem fininha bordeando os beiços.
Todo o aparato do domingo de sol se desfaz nas mãos da natureza que hoje
resolveu radicalizar e tornar os cornos de todos com menos arroubo para um dia
de sol.
Os guarda-sóis são os primeiros a se digladiar
com ele, tentando manter a dignidade e se estabelecer como aparador do sol de
seus donos, mas tudo em vão, são arrastados para todo canto se ferindo ao
quebrar seus aros, rasgando suas vestes criadas com os mais esdrúxulos temas da
moda.
Não somente eles entram na brincadeira do
voa-voa, porque seguindo no propósito de vergastar o que lhe vem pela frente,
descabela as melenas das moçoilas, arranca o chapéu dos mais prevenidos, esburaca
o chimarrão acrescentando a areia como se fosse chá na bebida preferida das
imensas turmas que se acotovelam para curtir um dia, um dia!!!! de praia. Como
uma cartada final, a ventania evolui em redemoinhos enchendo de areia os olhos
dos que se deliciam em apreciar tantos corpos que circulam seminus.
Um comentário:
Maravilhosa percepção hoje ainda falei deste rico Nordestão.
Abraço
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