sexta-feira, 25 de julho de 2025

O dia que não existe

 


Era muito cedo da manhã quando Marilia percebeu que não havia sinal de vida no entorno e nem mesmo sentia dentro de sua rotina a organização diária. Havia um vazio e um silêncio em qualquer lado que se voltasse, parecendo haver um abandono que a invadia carregando seus pensamentos para algum lugar insuspeito até este momento.

Começou a acreditar que esqueceram de contabilizar esta data no calendário porque não encontrou em lugar nenhum a faina e o lufa-lufa de um amanhecer normal que deveria seguir em frente de maneira inexorável sem que fosse possível atrasar ou adiantar um minuto sequer da vida.

Resolveu que começaria a realizar uma conversa e alinhar a tarefa do dia mesmo sentindo que estava faltando tudo para a realização do que estava almejando. Havia este ar macambuzio que se negava a dar qualquer sinal que procurasse, mesmo que saísse um pouco da linha.

Em poucos instantes Marilia percebeu uma luz projetada em sua lembrança que trouxe um filme da sua infância com detalhes minuciosos dos momentos em família, iniciado sem que houvesse controle. Entrou em cena imagens cheias de nuance e detalhes daquela época longínqua mostrando a evolução da vida de todos separadamente, mostrando as diversas fases e o tempo passando. Admirada com a sensação sutil Marilia mergulhou na saudosa história esquecendo por um momento que deveria encontrar a data deste dia que se mostrava ausente. De repente a luz se apagou, as imagens sumiram e sua alma foi invadida pelo sentimento de perda e tristeza e foi deste modo que Marilia encontrou no calendário este dia que marcava uma ausência.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente e muito tocante esta cronica,Vera!

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