Eu tinha certeza do que ia
acontecer mesmo sendo avisada do perigo iminente que a cada dia mais se
aproximava de mim, deixando farpas pelos cantos, sinais silenciosos quase
inaudíveis que serpenteavam no entorno como fumaça magica penetrando lentamente
na casa, chegando com força naquela prateleira de livros rota de tanta leitura
que segue a postos para qualquer consulta. O dicionário Analógico amarelado do tempo
de uso, segue firme, resguardando com carinho todas as palavras que capitaneiam
o meu raciocínio e me fazem voar no tempo, no dia, na noite, na luz e na
escuridão.
Em outro canto percebi que a
pilha de papel em branco se acumulava, as canetas de anotação estavam sem tinta
assim como os lápis careciam de ponta fina para arranhar com pressa as resmas
de papel que perambulam por toda a casa. Todos estavam relegados a um recanto não
havendo ao meu alcance nenhum instrumento dando a impressão de uma varrição de
ideias da minha velha mesa de trabalho.
Me voltei mais animada para a
minha escrivaninha, esta que recebe com toda a paciência do mundo, meu grito de
revolta, meu suspiro de saudade, meu olhar molhado de lágrimas, minha gargalhada
e meu choro convulsivo e percebi que havia sido surripiada minha inspiração,
eivada de provérbios, advérbios, pronomes e pontuação - sem falar nas palavras
inventadas - que me acompanham por cima do ombro como fieis algozes do assunto.
Aceitei este mando Divino e considerei o fato como um arroubo senil causado
pelo delicioso ar gelado da costa. Voilá!