Nem bem o sol vem a público,
ao céu e a terra e eu já estou a postos em sua beirada espumante curiosa para
saber o que foi que ele trouxe para a areia durante estes dias de vento, frio e
chuva, já prevendo que não apenas coisas de cá, de lá e do fundo emergiriam desta
viagem. Fiquei me perguntando o que o mar gostaria de conversar neste dia, qual
o segredo que me seria confiado ao pé do ouvido, qual impropério inimaginável seria
desferido, qual rugido em ondas ressoaria desta garganta devolvedora do que não
lhe pertence.
Eu sei muito bem que a
conversa comigo acontece quando os tantos e muitos invasores se enroscam na
nascente do alto mar gelado e, astutamente embrulham seus
espinhos, suas raízes, seus tentáculos aéreos aprisionando pequenos peixes, algas
desgarradas, tatuíras e mariscos lentos e incautos e caranguejos enfraquecidos
das redes de pesca e assim a contagem vai ao infinito costa afora.
E assim a onda enorme varre o
que lhe passa pela frente e os deposita aos meus pés. Me assentei na areia molhada com pés e mãos
enredados na sobrevida de alguns que vieram de longe aqui aportar: uma semente,
uma alga com caule em botão, um galho da terra verde renascendo. Pensei logo
que ali estava uma oportunidade de refazer um caso, criar uma alternativa, ver
com outros olhos e ouvir com humildade o que vem de lá e sem dúvida, perdoar.
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