sábado, 21 de junho de 2025

O que vem de lá

 


Nem bem o sol vem a público, ao céu e a terra e eu já estou a postos em sua beirada espumante curiosa para saber o que foi que ele trouxe para a areia durante estes dias de vento, frio e chuva, já prevendo que não apenas coisas de cá, de lá e do fundo emergiriam desta viagem. Fiquei me perguntando o que o mar gostaria de conversar neste dia, qual o segredo que me seria confiado ao pé do ouvido, qual impropério inimaginável seria desferido, qual rugido em ondas ressoaria desta garganta devolvedora do que não lhe pertence.

Eu sei muito bem que a conversa comigo acontece quando os tantos e muitos invasores se enroscam na nascente do alto mar gelado e, astutamente embrulham seus espinhos, suas raízes, seus tentáculos aéreos aprisionando pequenos peixes, algas desgarradas, tatuíras e mariscos lentos e incautos e caranguejos enfraquecidos das redes de pesca e assim a contagem vai ao infinito costa afora.

E assim a onda enorme varre o que lhe passa pela frente e os deposita aos meus pés.  Me assentei na areia molhada com pés e mãos enredados na sobrevida de alguns que vieram de longe aqui aportar: uma semente, uma alga com caule em botão, um galho da terra verde renascendo. Pensei logo que ali estava uma oportunidade de refazer um caso, criar uma alternativa, ver com outros olhos e ouvir com humildade o que vem de lá e sem dúvida, perdoar.

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