Localizei o velho telefone com
fio em um cantinho do sótão, numa posição que parecia proposital, porque além
de desconectado de sua antiga linha fixa o fone estava displicentemente fora do
gancho, dando um recado de que por ali não passaria nenhuma voz longínqua,
nenhuma risada, nenhum papo firme sobre coisa nenhuma, nenhuma notícia alegre
ou triste, nenhuma voz embargada de saudades e muito menos soluços de tristeza
e decepção.
A
conexão estava vazia de propósito havendo apenas a lembrança de tempos idos em
que o aparelho aproximava todas as vozes, de todos os lugares, de todos os
timbres, de todos os sotaques, de todos os idiomas da maneira mais lúdica e
emocional que se pode imaginar.
O
telefone antigo fazia parte da mobília e em torno dele sempre havia um aparato
de decoração que abrangia um móvel que lhe conferia pompa, circunstância e
conforto para atender o aguardado tilintar estridente que ressoava pela casa
desencadeando uma correria desabalada para atender em tempo hábil, quase sem
fôlego, o tal chamado.
O
contato sempre tinha a importância devida de um enamorado que aguardava um alô,
uma mãe saudosa do filho que se lançou no mundo, de notícia boa demais e outra
triste de causar dó, mas, mesmo assim sendo necessária a importante transmissão,
sempre em ocasiões especiais.
A
imagem do aparelho relegado a um cantinho do sótão em postura displicente
sugeriu que ele estava mandando um recado de que, ora em diante, não existe
mais um lugar com aparato especial na residência, a relevância se volatizou, a
conversa emocionada se rendeu a banalidade, o conteúdo do diálogo longínquo foi
relegado a palavra abreviada, a voz ficou sem ar e as perguntas sem resposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário