Ao abrir os olhos percebi que
alguma coisa estava acontecendo dentro de mim, era como se algo ou alguém
estivesse me empurrando. A respiração estava retesada, o coração dava acordes
dissonantes do normal. Ao levantar percebi minhas pernas estranhamente fortes e
o frio acariciava meu corpo ainda quente da cama, brandamente. Um pouco
depressa demais resolvi atender o chamado e praticamente me joguei aos quatro
ventos na rua como se não houvesse nada mais a fazer ou, quiçá, eu, sonambulada
estava enxergando alguma outra passagem logo ali.
Resolvi que este seria o dia
em que iria espiar a vida, fazer um caminho diferente, desviar da trilha
socada, encontrar novas casas, vislumbrar rostos desconexos, outros amores,
intrigas sem fundamento, vizinhos diferentes, brigas fúteis, novas comemorações.
Andava eu naquele dia atrás de um misto de vida.
Eu imaginava um dia comum,
apenas mais um dia e assim resolvi que eu iria dar um pulinho na vila fazendo o
percurso no busão da comunidade. Por ali, frente ao meu olhar surpreso, desfilou
quem habita o res do chão, mãos calejadas no aperto de mão, oração na ponta da
língua, abraços em aberto, gengivas descarnadas, rostos pregueados, passos em
falso, bengalas mambembe.
A crueza do dia surgiu ao
perceber que hoje fui apresentada ao transporte de todo mundo, talvez de menos
mundo e certamente de nenhum mundo. Voltei para casa com o sorriso invertido.
Um comentário:
Muito boa tua história, vou compartilhar
Beijos obrigadão
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