Engatei a marcha da resolução,
pisei firme o pé na areia úmida e gelada seguindo com os olhos vidrados na maré
vinda de alto mar até morrer aos meus pés e que, vez ou outra, passa por mim em
desabalada carreira rumo ao desconhecido cômoro arrastando a bicharada menor
que se diverte na água rasa sem perceber que fica à deriva, de barriga aberta e
seca quando o divertido oceano volta ao leito.
Depois desta pequena distração
sigo na vista do fundão tentando adivinhar qual o humor dele hoje, pois como
eu, ele é afeito a um temperamento oriundo de sua parceria de nascença, o
clima. De minha parte, todos os dias preciso correr e verificar qual tempero em
mim vou colocar já que não uso perfume. A coleção é grande para hoje, mas vou
descartando as pitadas agoniadas, apimentadas e ácidas escolhendo a que sempre
está a mão quando se trata de banho de mar. O sal.
Olho para todos os lados para
ter certeza de minha decisão, afinal não é verão, o sol não torra, os
guarda-sóis não apontaram a cabeça, o ar não cheira a protetor de qualquer
coisa, nenhum som abominável por perto, enfim, aparentemente estamos somente ele
e eu na expectativa do primeiro mergulho em água fria realmente.
Fiquei observando o movimento
das ondas uma vez que elas baixaram seu nível, quem sabe pensando que hoje eu
não teria coragem de finalizar meu intento, talvez eu tenha vindo ali só para
brincar de vou não vou e por este motivo carinhoso resolveram me dar passagem.
Sorri levemente, agradeci a
gentileza, levantei a cabeça e determinei a mim e a elas que era chegada a hora
de seguir a passos largos mar adentro, quebrando suavemente as pequenas ondas,
avançando com coragem, encontrando o movimento da água perfeito ao cobrir meu
corpo inteiro que flutuou ao seu embalo, arrancando de mim um suspiro de susto
ao impacto da água gelada do Mar de Primavera. Ah!!! Deus!!!

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