É chegada a hora da farra, aquela farra que
para muitos soa como uma válvula de escape das pressões da vida e para outros
como sendo um grilhão que atazana a calmaria almejada em qualquer sitio em que
se aquerencie. De um lado a urgência de
quem precisa despressurizar o cotidiano e somente alcança este estagio quando
acontece um modo generalizado de permissão para poder escafeder tudo o que lhe
tranca por dentro. Deve ser por incompetência própria de não saber divisar o
bom do ruim para si mesmo no decorrer dos dias atribulados e assim acontece o
desvario.
A data é essa, sair no bloco de rua, no salão
de festas do condomínio, na escola de samba, na avenida, na ruela e cem mais
lugares que aceite a farra do desfile na cor de cada um. De certo modo se
apresenta ali um numero de possibilidades inimagináveis de se mostrar ao mundo,
e a máscara é o argumento mais do que perfeito para que tudo aconteça por
debaixo dos panos, e assim as providencias para escancarar a farra tem livre
arbítrio da data.
No propósito de uma festa popular quem na
vida tem seu destino preso a um gênero, seja qual for, irá escolher uma
camuflagem que seja do seu contrario, de tímido para audacioso, de presumido
para humilde, de fanfarrão para submisso, havendo assim esta salada de desejos
enrustidos que afloram nesta ocasião justamente para sacudir a mesmice.
As máscaras estão aí com toda a sua pompa e
brilho desafiando as personalidades a envergarem seus mais escondidos desejos
mesmo que isso não lhes apareça na consciência. É uma festa ímpar e de um
colorido embriagador e assim o poltrão de carteirinha escolhe o disfarce de cor
azul cintilante pretendendo com isso que ele alcance a simpatia dos incautos, o
sabujo se reveste de roupas fulgentes para esconder-se e, os demais, apenas
utilizam adereços divertidos, afinal, festa é festa. Escondidos, os avessos a
balburdia observam serenos com uma singular vela acesa no cantinho, apenas no
aguardo do término.