sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Sem aviso prévio



É verdade que não tinha hora para o contato, é verdade que sempre que se movimentavam os mequetrefes modernos de comunicação era para sair correndo e conferir porque dali poderia vir uma agradável surpresa, uma fala engraçada, uma musica desconhecida e fascinante. Pareceu-me que este achado pelas vias celestiais da internet vieram me proporcionar uma boa companhia virtual, nos mais variados dias e horários, sem pedir licença. Surgiu de mansinho, como não quer nada, dizendo ser de antanho. Demorei alguns segundos para lembrar com a referência do nome, apenas. Como um portal mágico minhas lembranças se abriram àquele tempo com detalhes surreais, não faltando nenhuma cor.

Mas é aquilo, o que nos fez bem aos olhos, ao corpo e a alma na juventude – que é o caso – está em nossas reminiscências mesmo que enevoado pelo tempo. Eu, particularmente, tenho muitas gavetas dentro da minha alma que não vasculho de jeito nenhum. Seja porque emperraram e então lhe viro as costas, seja porque perdi a chave por puro desleixo em relação ao ocorrido ou talvez a brecha em que se embarafustou o personagem minha emoção não tem mais alcance. Este caso foi diverso e no canto da estante memorial os fatos estavam vívidos.

Ainda estão bem claras na minha fantasia aquelas ocorrências que se destinavam apenas a desfrutar das gabolices da juventude, das risadas repentinas e do ir e vir de assuntos menos complexos do que se gostaria. A conexão depois de tanto tempo passado surgiu com seu poder de resgate tão forte que fica difícil não sentir pulsar a empatia estabelecida em tempos remotos, tantos, que não me sobram dedos para contar.

O banzo que me acomete é perder o que a vida me devolveu com outros contornos, mas com muita importância, tanto que com a mesma surpresa do reencontro ainda que virtual, apreendo que os dois destinos andaram juntos apenas com outra vibração. As lembranças são eternas e este abrir e fechar de cancelas emocionais lava a alma.

Agora padeço uma inconformidade porque sem aviso prévio, sem um adeus em letras, sem um gesto musical, sem um olhar de celular, sem assuntos variáveis eu o perdi havendo no ar uma negativa de ousar suposições sinistras. Agora meu olhar vaga - não no horizonte - mas na ausência de notificações.

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