quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Perdas



 A mochila da vida anda abarrotada e por mais que a gente se esforce em diminuir seu conteúdo a opção fica difícil, uma vez que pensamos que é o nosso destino reunir e carregar tanto o necessário quanto o menos óbvio nas costas, sem perguntar para que serve tudo isso. É fácil dar uma olhada rápida e encontrar todos os episódios, as fantasias, as verdades, as mentiras e as traições enredadas entre si, sem que possamos, ligeiramente, discernir o que nos favorece e o que não.

A percepção que me acomete é que no compasso cotidiano ao invés de revermos os acumulados vamos, de fato, lhes adicionando outros, seguintes e distintos que farão companhia a todos aqueles que permanecem entorpecidos, arruinados no tempo, intrincados na astúcia de outrem, mofados pelo abandono. Tantas causas perdidas, tantos dilemas engavetados, tantas mentiras afloradas pela simples razão da dificuldade de sermos assertivos quanto ao potencial de descarte que existe no fundo da nossa alma.

Dentre tantas coisas guardadas os espinhos que nos alfinetam saltitam entre lástima antiga – porem intensa - mas, ao nos aproximarmos dos ditos guardados há tantos anos, nos damos conta que aquela emoção foi alterada para um modo sem importância, como se nos houvessem virado as costas e saído de mansinho de nossas vidas. O frio vazio do abandono se instala mesmo que ainda sintamos quentura nas lembranças.

É assim que acontece toda vez que damos uma paradinha para fuçar no bornal apinhado que abarca tanto o que ainda sobrevive no caos das relações modernas como aquelas que apenas nos deixam com ombros cansados e a alma em pedaços. Chegada a hora da limpeza, momento sublime de vazar o que não nos diz mais respeito, abrir caminho para que os amores sem garantia tomem seu rumo para longe de nós. Espaços espirituais lotados de tralha emocional não favorecem a entrada da novidade, da alegria e dos novos amores.

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