A
mochila da vida anda abarrotada e por mais que a gente se esforce em diminuir
seu conteúdo a opção fica difícil, uma vez que pensamos que é o nosso destino
reunir e carregar tanto o necessário quanto o menos óbvio nas costas, sem perguntar
para que serve tudo isso. É fácil dar uma olhada rápida e encontrar todos os
episódios, as fantasias, as verdades, as mentiras e as traições enredadas entre
si, sem que possamos, ligeiramente, discernir o que nos favorece e o que não.
A percepção que me acomete é que no compasso
cotidiano ao invés de revermos os acumulados vamos, de fato, lhes adicionando
outros, seguintes e distintos que farão companhia a todos aqueles que permanecem
entorpecidos, arruinados no tempo, intrincados na astúcia de outrem, mofados
pelo abandono. Tantas causas perdidas, tantos dilemas engavetados, tantas
mentiras afloradas pela simples razão da dificuldade de sermos assertivos
quanto ao potencial de descarte que existe no fundo da nossa alma.
Dentre tantas coisas guardadas os espinhos
que nos alfinetam saltitam entre lástima antiga – porem intensa - mas, ao nos aproximarmos
dos ditos guardados há tantos anos, nos damos conta que aquela emoção foi
alterada para um modo sem importância, como se nos houvessem virado as costas e
saído de mansinho de nossas vidas. O frio vazio do abandono se instala mesmo
que ainda sintamos quentura nas lembranças.
É assim que acontece toda vez que damos uma
paradinha para fuçar no bornal apinhado que abarca tanto o que ainda sobrevive
no caos das relações modernas como aquelas que apenas nos deixam com ombros
cansados e a alma em pedaços. Chegada a hora da limpeza, momento sublime de
vazar o que não nos diz mais respeito, abrir caminho para que os amores sem
garantia tomem seu rumo para longe de nós. Espaços espirituais lotados de
tralha emocional não favorecem a entrada da novidade, da alegria e dos novos
amores.
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