Certamente o Diabo não apontou as orelhas
para o dia e aquelas duas se vão porta fora bem acompanhada pelo orvalho da
manhã e a lua ainda no céu. A madrugada se despede e dá as boas vindas ao sol
que este ano anda furioso, no bom sentido, e a caminhada rotineira é só o
principio de um dia cheio de trocas. Nem a chuva suspende o andar porque quase
sempre são pegas de surpresa sendo obrigatório voltar ou experimentar em qual
ponta do bairro arrefece o aguaceiro.
O caminho é o mesmo diariamente e cheio de
simbolismo que só um praieiro consegue adotar porque em uma ponta se deve
chegar à estrada que liga as praias, os balneários, os bairros e por onde
escorre a horda de visitantes que saltam de um lugar ao outro como se o sol na
mufa liberasse um instinto parecido com a perspectiva de fim do mundo.
Por este motivo bastou chegar por perto deste
movimento insano para dar volta volver e buscar na outra ponta o amor maior do
morador: o mar. O sorriso já anda estampado na fisionomia daquelas duas porque
até então a paisagem que se avizinhava não era a preferida, mas a trilha tem
que ser cumprida e assim lá vão elas, agora rumo ao mar.
A conversa é um caso à parte e aja tema para
ser abordado porque no dia a dia sobram questões de todos os gêneros e nunca
falta argumento para todas as conversas. O mais curioso é que por estas bandas
os diálogos fluem com a mesma leveza da natureza, parecendo combinação de quem
aposta que o oceano acalma todas as almas, não sendo necessário queixar-se. Na
chegada ao calçadão emudecem as historias e com certa simplicidade as mazelas
que por ventura rondavam o dia se desfazem como por milagre. A reverência ao
novo dia eleva o espirito originando oração e graça.
Como se não bastasse a parceria diária na
caminhada as duas são vizinhas de porta e ai é aquilo: a conversa começa de
manhã, interrompida pelos afazeres da casa, mas como num roteiro bem feito da
vida ao surgir a noite no horizonte da serra aparece o arremate. Não é bom
deixar nada para o dia seguinte.
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