A maratona já estava em andamento há muito e
talvez não fosse mais tão necessário aquele esforço físico próprio e dos seus
comparsas para que sua voz fosse ouvida um palmo acima dos demais, mas a
disposição e o comprometimento de acordar quem por acaso estive surdo às
mudanças propagadas era mais importante. E assim foi, incansável e nos braços
de quantos o quisessem carregar e de certo modo desatento aos perigos da vida,
do mundo e principalmente, do entorno próximo. Em segundos o sorriso verteu
sangue e como um sopro o corpo caiu. Não era a hora.
Despertar com o sol e sair para tratar da
vida move todo mundo, uns mais confortáveis em centros urbanos, outros menos,
mas certamente com olhar cristalino para o horizonte, pulmões cheios de ar puro
e mãos calejadas pelas lidas com a terra. Levantar as enxadas, ligar o trator,
usar roupas de tropeiro com orgulho se torna o “carpe diem” da vida daquele
lugar. Não importa muito se os sorrisos são desdentados e o cabelo rareia cada
dia mais. A conversa engatilhada vai andando animada sobre os ventos e as
chuvas da estação, se raras, se abundantes. Do nada, como um sopro, as vozes
se calam, os semblantes se fecham e as vidas somem diante da avalanche de lama.
Riso fácil, fala rápida, agilidade no corpo
impressionante e uma juventude com todas as chances do mundo em aberto. Apenas
há que dar uma espiada no universo e escolher. As escolhas já haviam sido
feitas assim como todas as nuances para que o processo de uma vida fosse
iniciado com afinco. Disciplina e alguns – ou muitos – sacrifícios são exigidos
desde muito cedo para quem tem na mira aquele norte. Em algum ponto a vida foi deixada em cuidados
de outrem, como não poderia deixar de ser neste caso. E com esta maneira
bizarra detalhes considerados improváveis foram negligenciados e o acolhimento
refrescante em uma noite de sono qualquer, como um sopro, incendiou todas as
perspectivas.
Bastou ver a fala, a voz e o semblante da mãe
para reconhecer o filho. Aquele que deitava a voz nas manhãs em direção a tanta
gente que nem dá para imaginar, aquele que com um riso tão fácil constrange
carrancudos, aquele que com olhar bravo cintilam os olhos azuis e o vivente
fica sem jeito sem saber ao certo se é bronca se é aprendizado. Na duvida,
melhor acatar e deixar para depois uma explicação que certamente virá como uma
aula importante praticamente impossível cabular. A vida foi essa com uma
impressionante unanimidade deixando perplexos gregos e troianos, cristãos e
ateus. De repente, do ar para terra, como um sopro se vai.
** A vida é um sopro é uma frase de autoria do renomado arquiteto Oscar Niemayer.
** A vida é um sopro é uma frase de autoria do renomado arquiteto Oscar Niemayer.
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