Existe no imaginário dos amantes de faixas
litorâneas aquela crença de que assim que os pés tocarem as águas geladas do
Atlântico tudo irá se transformar como num passe de mágica, que o cotidiano de
paz e liberdade com um clima menos traiçoeiro será benfazejo e todas as coisinhas
chatas da vida singrarão mar afora como demonstra tantos atos de fé e reza
forte nesta época. Junte-se a isso em cada esquina um “despacho” mirando uma
graça, um pedido de perdão ou uma ameaça.
As longas caminhadas solitárias com boa – ou
má – companhia se tornam consultórios a céu aberto enchendo ouvidos alheios das
mazelas que parecem brotar do chão arenoso, não dando nenhum escape para os
anjos que fazem plantão maciço nesta época correndo de cima abaixo para dar conta
da demanda espiritual.
A sina curativa da praia recebe a massa
ignara e não a abandona de modo algum porque se sabe que a brisa do oceano
recolhe com prazer todos os pedidos seja de quem for. Não existe pessimismo que
resista a imensidão marítima que todo dia está diferente sendo por este motivo
uma dádiva sublime. É só manter as narinas ao vento captando a maresia forte de
dias calmos e os ouvidos atentos aos sons da natureza, no arrulho das garças e
quero-queros.
Assim o povo veranista vai palmilhando cada
recanto da praia com suas conversas recolhidas com parcimônia por quem em volta
permanece. Descartar mazelas ao vento não é o mesmo que deixar para trás
pertences efêmeros parecendo, às vezes, aquela clássica caminhada sem olhar
para trás, mas, que após ter sido empreendida necessita uma paradinha
estratégica para recolher o que não pertence às ruas. Bom veraneio!