Acabei distribuindo por ai as minhas horas,
achei que as tinha guardado por tempo em demasia e carecia, no meu entender, de
terem mais liberdade, de talvez, quem sabe, terem certa autonomia para se
regulamentar, tomar para si a prerrogativa de decidir o que quer que seja sem
consulta, sem perguntar se é o tempo, sem achar que os minutos estão ou são
finitos. Enfim, joguei e assim os deixei ficar. Vamos ver ate aonde vão estas
horas com vida própria agora.
De propósito ocultei alguns na areia da
praia, talvez com a intenção fugidia de que aqueles ponteiros não me
alcançassem, porque justamente agora que tenho tempo para tudo ele parece me
escapar por entre os dedos, me deixando com aquela sensação de estar sempre
atrasada. Vai ver que é verdade, às vezes acordo depois do amanhecer perdendo
assim a hora em que a natureza me chama, ou, vez ou outra, me adianto no
compromisso parecendo que não tenho coisa melhor para fazer e talvez,
fatalmente, no dia em questão, levanto com um sentido de finitude achando por
bem ficar atenta até os últimos detalhes. Ao comungar todos os dias com a
natureza na borda da vida, melhor não distrair.
Achei de bom tom, nesta altura, esconder na
beira mar alguns visores faltando ponteiro para que assim eu consiga apenas
imaginar o tempo passando e não enxergar o que acontece de fato, deste modo o
tic-tac emudece por um tempo me dando a chance de fazer caminhos alternativos,
de ir e voltar na lembrança como se esta fosse uma passarela que me mostrasse a
vida toda e que eu não pensasse em lágrimas o que foi feito.
Entre todos estes mostradores jogados ao léu
me surpreendeu aquele que leva em si uma abertura dando vazão ao outro lado,
parecendo que este quer relatar que o outro lado da vida pode estar na espreita,
como um caleidoscópio, e ele, sem ponteiros e sem estrutura completa vem avisar
que o tempo pode cair, do nada, em um detalhe não programado.
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