De tempos em tempos sou envolvida
pela mentira, engraçado, porque se tem uma coisa que não faço é mentir. E não é
por gosto não, não minto porque tenho medo, porque se antevejo deixar alguém na
mão dando uma desculpa inexistente tenho a certeza que serei descoberta e fico paranoica
em relação à criatura e ao fato, e então desisto. Melhor pagar o mico de não
estar a fim de qualquer coisa sugerida, do que falsear as intenções que vem a
você com o mote de fazer parte do mundo aludido do outro. Como carregar a falsidade será o tema da sua
vida se cair nesta armadilha.
Percebo que em muitos casos
a mentira faz parte do dia a dia, ela existe e está ali na agenda diária de
compromissos, tipo, uma reunião desajustada, uma mentira, um passeio previsto
esquecido, outra mentira, um encontro desmarcado, mais uma mentira. A sequência
se torna uma teia que enreda o real da vida e a falta de coragem de ser
autentico. Seria bom tomar uma chuveirada de lealdade todas as manhãs e
distribuir como se fosse o pão da vida, os acontecimentos que tem fundamento,
que chegam recheados de argumentos interessantes mesmo que as noticias ruins grasse,
o idílio previsto não aconteça, o amor não tenha mais conserto, o negócio esteja
falido e o interesse tomou Doril. Todos estes temas pedem sensibilidade que
somente a clareza de atitudes pode prover.
Quando sou desafiada a dar
uma espiada na vida lá fora e sem querer tomo o caminho errado, a mentira me
pega no contrapé e compreendo que a calúnia vai se apresentar no momento em que
está sendo gestada, parecendo um sino tocando no fundo, mas bem no fundo da
minha cabeça. Talvez eu a reconheça a partir do convite que veio em tom de voz
e se a empreitada desonesta vem por escrito faz a minha intimidade com as
letras esquadrinhar a cadência inequívoca da desculpa que vai me atingir a
seguir.
Sempre fico surpresa ao
perceber que saltar fora dos trilhos sem querer traz uma nova forma de ver e
entender as pessoas que coexistem entre tantos personagens criados particularmente
e cada um com esmero invejável.
Prefiro pensar que são eles –
os mentirosos - que dão brilho à caminhada, oxigenam o coração por conta do susto
e da surpresa, trazem mais cuidado ao se avistar com todos e definitivamente trazem
uma alegria enorme na aferição da nossa intuição.
Um comentário:
Alguns mentem, mentem tanto que sua vida é uma mentira; outros não mentem, talvez porque não consigam, mas suas vidas também não passam de mentiras, vez que pode lhes aguçar a vontade de mentir e freiam. Os primeiros pendem para a desonestidade e os segundos, apenas coerentes com a sua configuração moral, mas ambos mentem para os outros, ou para si. E a vida, o que é o que é? Verdade ou mentira? Os dois, penso eu, pois enquanto real: verdade;virtual,só desejo, sonho, quimera: uma grande mentira, apenas um vôo de quem não possui asas, apenas vontades reprimidas pelas contingências!Claro que tem aqueles que nunca mentem! Não me responsabilizo, porque amanhã posso estar no brete! Parabéns por mais este texto que reproduz sentimento que corre nas pessoas de bem!
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