Dia morno na caminhada lomba
acima espanando o mofo, a injúria enrustida e certa indolência com tudo. Mas
toda subida tem sua descida e sempre em grande estilo porque descer é mais
rápido, mais perigoso e muito, mas muito mais arriscado. Então, acelerei na
baixada sem querer, mas fui parada pela prepotência uníssona dos rostos que me
transpassavam arreganhando uma boca e um semblante desproporcional ao meu interior,
confesso, sorumbático.
Eu queria ficar ali, de
cabeça baixa lambendo o chão, mas como sempre acontece nestes casos, o entorno
suga teu intento, a luz forte e quente te avisa que não será esta a hora de se
agachar ou de se enterrar um pouquinho só e muito menos usufruir um tiquinho de
solidão necessária para renascer mais adiante. Não, neste dia luminoso eles vem
te alevantar pelos chifres e te fazer encarar o que vem pela frente.
Forçada, comecei a observar
os rostos de quem passava por mim e presenciei exatamente o que eu queria viver
ali, nas ruas, mas ao contrário. Todos os rostos desviados tinham um singular
esgar na boca que eu entendi como um leve sorriso – que não eram a mim
dirigidos - como se aquela pessoa estivesse pensando em algo bom, interessante
ou engraçado.
Todas elas com esta atitude
tinham um smarthphone na mão e caminhavam por cima de tudo e de todos, com
a visão acima da linha do horizonte e tão etéreas que poderia afirmar estarem somente na imaginação.
Dali para frente me ficou impossível
não pensar que é uma ingratidão para passantes de ruas imensas negarem o cruzamento
do olho no olho, trocar um sorriso, recusar um flerte imperioso com alguém interessante
ou subtrair a tentação de espontaneamente cumprimentar um desconhecido
simplesmente. Não é mais possível encontrar a incógnita tão estimulante, não se
faz leitura de quem passa na rua e não se encontram mais as almas se cruzando
no universo.