O corpo se esvai lentamente ao perder a capacidade
de se regenerar tão feliz e avidamente como quando se é jovem, e então vamos
perdendo todo dia um pedacinho da gente que cai em solo infinito adubando nosso
entorno. Acredito que as partículas que compõem o esqueleto também possuem uma
energia espiritual, portanto solidárias, nos acompanham o tempo em que estamos
nos esvaindo de nós para enfim nos tornarmos pó. Pó da terra, pó do ar, pó do
mar.
A senescência é nobre uma vez que circula com calma, confere todo dia o árduo trabalho de diminuir ao invés de proliferar e o faz com valentia e um toque de tristeza como é cabível nestes casos. Ela é irreversível e a fatalidade é sua única amiga, mas ela é contente porque não é ela que determina a hora da ida. Ela nos coabita e não notamos sua presença sendo este o maior exemplo de tornar a decrepitude uma honra e uma benção por termos dentro de nós um critério que apresenta o caminho de planos outros.
Acho que com esta sina no capote é melhor adotar coisas essenciais para apalpar, para pensar e para se chegar. Coisas essas que não dependem de ninguém nem de nada. A energia que se perde vai dando lugar a atitudes comezinhas quanto falar mais baixo no dia a dia, uma vez que não interessa com quem estás trocando idéias, não ativar com exagero seus interesses e qualidades como se estes fossem a mola do mundo uma vez que ao outro tanto faz seus méritos, ele te amará assim simplesmente como o querer deve ser.
A elegância é requisito indispensável para a manutenção de todas as células se manterem unidas enquanto vivas. Perca a elegância que te mostrarás como sendo um amontoado de células indignas de ocupar este corpo físico. Única e incomprável, a atitude adequada é sempre um desafio assim como a ocasião meio sem sentido que pede prólogos intensos e ofertamos um sorriso e um descarte. Mas bem, isto é para quem exercita o apuro uma vez que brandura conquista e o imoderado afasta.
Ligeira e caluda nossas células
nos dizem adeus, algumas nos prometendo que vão ainda dar uma força na
reprodução para agüentarmos mais um pouco, outras decididas, cortam a relação
com firmeza uma vez que por ali ela não tem mais capacidade de contribuir e
outras ainda – mais cautelosas – se colocam em pé de igualdade para todo o
sempre, sempre este que nos acompanha com apuro e caráter como deve ser a vida
de um DNA. A saber, como deveria ser a nossa vida.
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