Pensei duas vezes antes de
encarar a miopia que se instalava irreversível e confesso que um pouco tarde
percebi que o que me aparecia tão
claramente de frente não subsistia de longe. Assim acontece quando estamos mais
distraídos, mais etéreos no olhar de perto que fica para trás momentaneamente.
O desfocado se junta a nós como se parte fizesse dos nossos sonhos e por
estarem assim, embaçados, nos damos em braço e, juntos caminhamos.
As névoas da vida se instalam
em nós quando o entorno se mostra propício e em um descuido, erramos a porta
adentrando em um círculo que se fecha com tanta autoridade que pega de surpresa
e derruba o sobreaviso que é sempre bom manter ao lado. Mas não é a toa que o
relevamos e o deixamos à deriva para depois, muito depois, reclamar.
Enxergar o que não vemos faz
parte de propósitos inauditos, de objetivos ocultos, de ensombração do que estamos querendo.
Confusos, damos trela a quem não nos merece, damos assunto a quem não o tem,
entendemos que é bom quem não vale a pena e doamos parte de nossa paciência de
forma ineficaz causando mais estrago do
que tornaria ao acaso.
É assim quando a miopia nos invade
e temos para nós que o que vai em frente tão embaralhado pode ser uma chance,
uma oportunidade. Na verdade o que nos vai pela frente é a ilusão que pauta
nosso dia a dia e vem sempre a reboque do que gostaríamos de ter, ser,
conquistar. A sonhateria é uma fábrica
ruidosa que consome sua energia ao fabricar o que não podemos alcançar. Como seu fim busca a esperança nossa companheira não desagrega em
um único infortúnio, ela se cola e corajosa diz que assim devemos seguir mesmo
quando a decepção vem nos fazer companhia, mesmo quando o que se apresentava promissor
surge desconfortável e assim é a desistência do que não enxergamos de fato.
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