domingo, 20 de julho de 2014

Solitária


A visão dali era de apenas quatro paredes que fechavam o circuito naquele tempo perdido em si mesmo, parecendo não haver o que fosse de fato interessante para subtrair dali uma ou qualquer coisa. Em perspectiva parecia tudo muito bem alinhado e fechado sem nenhuma, ou quase nenhuma, chance de soltura de quem ali se amarrou.

Em frestas pequenas entrava uma bolinha de sol nos dias em que ele aparecia, uma gota de chuva ou uma lágrima de lua se faziam presentes alternadamente, trazendo calor, frio ou melancolia confundindo um pouco o clima dentro do cubículo.

As cores também variavam e o colorido nem sempre se apresentava como preferido havendo uma mutação da cartela que se alinhava conforme o vento  soprasse e a luz se fizesse presente. A estrutura era frágil como sempre acontece quando se encerra em tão pouco espaço tanto a pensar, um mais a se consumir ou finalizar.

Somente muito poucos percebiam a riqueza das fronteiras de além dali, do imenso espaço aberto que aquela conjuntura pequena proporcionava uma vez que ao se fechar em copas afloravam outros assuntos e estes iriam perpassar o mundinho fechado aparentemente sem fronteiras.

É neste ponto que se abre a perspectiva de enxergamento do oculto, do não sabido, do ignorado, que chega para surpreender o dia uma vez que a noite já levou o que fazia sentido.

A compreensão do vazio é preenchida com a riqueza de detalhe do sonhador acordado que busca insanamente o sorriso que lhe faltou do outro, o abraço apertado imaginário, o aprendizado com sua própria companhia para ter jeito de enriquecer a de todos e amiúde, cede sua solidão para que o outro não a experimente.


E assim vai sendo feito o figurino que dá personalidade a esta solitária que somente na aparência alucina, uma vez que sua construção tem base sólida em argumentos, detalhes e intenção, sendo eles que mantêm as quatro paredes em pé.

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