Lanço meu olhar agudo, por velho se sentir, por
sobre as coisas e as vejo muito claras agora.
Um olhar diferente sobrevoa a caminhada, sem detalhes, porque
nesta hora quero somente pairar, olhar de cima o que aparece e ver quanta
importância destaquei aos de menos e não vi o que a mais me ofereciam, por
estar cega e envolta na trama do impossível. Presa no sonho, grudada na
desatenção do momento presente.
Apequenada na observação percebo que de tudo o que vejo muito
tem de nunca mais. De cima consigo enxergar o quanto outra sou e esta me
persegue avisando sem parar.
Definitivo e intenso
demais para quem está sempre querendo ir além ou onde der para ir.
Todos os depois terão novas cores, iluminando meu pensar,
trazendo possibilidades.
E de tanto em tanto vou formatando aquela que serei eu.
Nunca mais.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
sábado, 29 de maio de 2010
Nunca mais
sábado, 22 de maio de 2010
Quatro paredes
Quatro paredes nunca contam com o teto e na
verdade, o teto é que são elas. O que acontece nos reflexos dos cimentos ao
quadrado é o de cima que os vê e é sempre emparedado que enxergamos o que
talvez a olho nu e na claridade não conseguiríamos entrever.
É nesta prisão que nos defrontamos com o desconhecido de nós
mesmos, pois por ali, não temos para onde correr e de tais partes se formam o
viver, este presente sem fuga.
A parede real nos grita as obrigações, os compromissos e os
deveres a cumprir como uma ameaça, se não dermos cabo das ditas. Faca no
pescoço. Cumpra.
A parede em frente tem a cor da esperança que avisa que o
tic-tac do relógio está correndo e alertando que não dispomos de muito mais
tempo para sermos felizes ou infelizes, porque na verdade isto é do gosto de
cada um. Uns e outros passam a vida no sofrimento por não saberem trilhar o
caminho da alegria e da felicidade e escolhem para si o pedregulho, e nunca
dele conseguem se safar.
A outra parede em tons de ilusão mostra as impossibilidades
da vida de uma forma muito sutil, pois é nesta seara que muitos não alcançam
autonomia imaginando simplesmente o que desejam, pressupondo que a solução
venha como se uma mágica fosse.
A quarta parede vem nos falar da essência da existência,
assoprando desesperançada que a nós é dado o livre arbítrio. Ir e vir faz parte
da assombração que idealiza um sentido constante de crescimento e de
valorização do que vem por aí. Viver.
E entre estas quatro paredes vemos o “teto” que tudo observa
como se Deus fosse. Para mim, o teto
representa o amor. Indiscutível.
Esqueleto
De volta ao esqueleto com milhões de partículas de toda a
espécie que se uniram cantareiras e voltaram a envolver meus ossos. Na evolução
dos sentidos comecei a pressentir a quentura dos nervos e a musculatura
aderindo à minha ossada descarnada. Veias se inchando com sangue quente que
recomeça a navegação por entre elas que de tão secas tomam um susto. Mas
rápidas se alegram e se refazem, talvez um pouco mal humoradas. Afinal, este
corpo estava descansando e lá vem esta tal de vida movimentar o que estava quase
morto.
A gritaria entre os átomos é ensurdecedora com meus
pensamentos zunindo de um lado a outro, um pouco desprovidos de senso, uma vez
que agora procuram acomodar-se nessa carcaça.
Tonta com a potência da história a me empurrar barranca
acima, sem dó, meu esqueleto agora revestido de gente decide assumir o que vier.
A renovação deveria ser
sempre assim, ruidosa e galopante, sem meias- medidas, anunciando ao mundo que
a caveira agora tem dono.
domingo, 16 de maio de 2010
Suspeita
De revés, alongo meu olhar no agora e só
enxergo o depois. É sabido que para vivermos plenamente, só o presente momento
é o que interessa. Mas a fobia de olhar em frente é sempre minha primeira
opção.E a carga do agora para trás faz minhas passadas se tornarem densas,
seguidas por um conteúdo que não quer se desligar.
Faço voltas por areias macias, pedregulhos pontudos e águas
geladas do mar. Salteio entre fatos e decido seguir sem proteção, descalça,
rumando por entre os caminhos da frente e deixando para trás o que eu já vivi.
Como deve ser.
Intensidades descartadas na efemeridade de um pensamento.
Lembranças sutis de uma
que não era eu.
A dúvida me leva a ponderar o que eu preciso de verdade e o
que eu posso dispor ao vento.
E solto as amarras do aditivo que insiste em me perseguir e
entendo que o amontoado preso em mim, não me pertence, apesar de querer parecer.
Sem dúvidas, se clareia
a caminhada e se alegra o presente com o olho afoito no que há de vir.
sábado, 8 de maio de 2010
Invasão
Se tem uma coisa que a vida moderna nos trouxe é a invasão. Temos os grandes olhos do mundo focados em nós, e, nem que não queiramos, assim é.
Um presente grego da tecnologia que facilita a vida enquanto derruba qualquer tentativa de vivermos ocultos e em paz.
Tantas formas de conexão e tão pouco aproveitáveis por não engrandecer nossas relações porque na verdade nos afasta da palavra, do olhar e do toque.
Um abraço e um beijo são digitáveis e para muitos tem o mesmo valor. Eles vêm enfeitados e coloridos querendo parecer tão deliciosos como se o fossem na realidade.
Carinhos de lábios cheios e abraços de brinquedo surgem a partir de hábeis tecnologias gráficas preenchendo corações solitários. Parece que apenas da máquina surgirão os presentes emotivos que de longe lideram as relações interpessoais de hoje.
Não esquecendo que todas as redes podem ser usadas para chegar até você, mesmo que você não queira. A abordagem aparece através do espaço infinito da tecnologia.
Somos um buraco imenso cavado na internet e por ali embarca o tudo do mundo. Estamos impotentes e entregues e o descarte também pode vir sem aviso prévio, sem bilhete azul.
Hackers da vida de todos
Parada
Sempre sem aviso, a vida pára. Um breque
repentino em que ficamos impossibilitados de seguir em frente. Nem um passo
sequer poderemos dar. Estanques e atônitos, impotentes na chamada “correria”.
Nunca estamos preparados suficientemente para enfrentarmos a
hora em que apenas a cabeça está funcionando, e mal, digamos assim.
Por um motivo qualquer a programação estabelecida não foi
cumprida e descontrolados do rumo, ficamos com pensamentos desfocados, indo e
vindo, como animais em jaula procurando uma saída.
É aí que entramos em contatos com a nossa vida de verdade. E
percebemos que chegou a hora de pensar melhor. De analisar o entorno e
descobrir como e porque chegamos ali.
E então a calmaria se
estabelece e iniciamos a delicia de se ver sem controle.
Observar as batidas do coração, o suor frio do susto da
parada e os tremores de um corpo acostumado a andar na coleira, como um bicho
domesticado.
Devagar, vamos entrando em contato com o eu interior e
relaxando no sentido de enxergar melhor a vida em perspectiva e não apenas
transitar célere por ela.
A parada vem te avisar que é chegada a hora de voltar.
Regresse um pouco ao tempo e aproveite a virada dos minutos.
Vai valer à pena.
domingo, 2 de maio de 2010
Tempos tecnológicos
Quando a tecnologia falha e me deixa, como uma
inválida fosse, fora do ar, sem conexão com o mundo e com meus projetos.
Quando ela me derruba precisamente quando eu mais preciso.
Quando ela me joga ao chão como se eu fosse um ser sem
serventia.
Quando ela me faz de boba a encarar olhares incrédulos e
irônicos como se eu nada valesse, então penso no passado, por incrível que
pareça. Pois é.
Linkados no rabicho de nossos instrumentos atuais de trabalho
nos arrastamos pela via láctea - só pode ser – no infinito onde as correntes
fluorescentes do limbo são o que nos traz à terra. Tudo voa por cima da nossa
cabeça, e ao olharmos para os ventos no céu, não conseguimos enxergar quem nos
aprisiona com tanta propriedade e inteligência.
Não tem poesia nem romance nesta cruzada de fios invisíveis
conectados com o impossível. De tão complicado que é, só sabemos que somos
reféns. E que sem as máquinas poderosas e céleres que vão aonde vamos, somos
ninharia.
E então
o passado vem me provocar.
Em que um dia tinha exatamente 24 horas e as primeiras doze
horas, pareciam ser um tempo de inúmeras tarefas a cumprir, todas elas com
prazo longo para serem executadas e o dia se arrastava lindamente. Não era
necessário correr e nada nos deixava na mão, porque tudo estava na mão. Era só
trocar uma pilha, repor a fita, trocar a lâmpada, consertar o aparelho.
Nossos passos eram mais comedidos, aproveitando a travessia.
Nossos pensamentos eram ordenados com simplicidade de quem tem uma vida inteira
para viver. Nossa fome de tudo era moderada. Não lotava nossos estômagos nem
nossa mente com excessos. Tudo slim. Já naquele tempo sabíamos precisamente o
que significava “slim” - muito antes de chegarmos no agora.
Tempos mais enxutos de tanta coisa a se pensar. Mais magros
de alimentos. Mais romances e amores a dar chance. Tempos de poder pensar em
refazer tudo ou muito. Na velocidade da luz, não temos mais tempo.
sábado, 1 de maio de 2010
Abajur
Um abajur diz muito de si quando apagado e mais ainda quando inicia sua vida, aceso. Ilumina pouco o ambiente e quase sempre aquele pedacinho da casa. Sempre muito delicado, tem mil feitios.
Mas, a melhor feição dele é no escurecer em que sua luz se confunde com o crepúsculo e assim ele vai criando suas próprias sombras mescladas com as nuances do cair da noite. Uma luz que termina em outra, tímida, cautelosa, uma penumbra que vem avisar que é chegada a hora de se aquietar. Uma cruzada para o sossego.
Assim sou eu quando em luz baixa. Minha mente fica pouco esclarecida e jaz quieta atirada em um canto qualquer. Esmaecem minhas idéias e até parece que se foram para sempre.
O fulgor da vida é assim. Às vezes se afina em tons etéreos, quase transparentes ficando nebuloso o juízo. De tanto ir e vir no meu louco pensar desprender-se do farol interior é necessário.
Do tom sombrio mas profícuo da solidão se refletem ponderações para a próxima ocasião.
Sossegue
Duas lágrimas
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