domingo, 2 de maio de 2010

Tempos tecnológicos


Quando a tecnologia falha e me deixa, como uma inválida fosse, fora do ar, sem conexão com o mundo e com meus projetos.

Quando ela me derruba precisamente quando eu mais preciso.

Quando ela me joga ao chão como se eu fosse um ser sem serventia.

Quando ela me faz de boba a encarar olhares incrédulos e irônicos como se eu nada valesse, então penso no passado, por incrível que pareça.

Pois é.

Linkados no rabicho de nossos instrumentos atuais de trabalho nos arrastamos pela via láctea - só pode ser – no infinito onde as correntes fluorescentes do limbo são o que nos traz à terra. Tudo voa por cima da nossa cabeça, e ao olharmos para os ventos no céu, não conseguimos enxergar quem nos aprisiona com tanta propriedade e inteligência.

Não tem poesia nem romance nesta cruzada de fios invisíveis conectados com o impossível. De tão complicado que é, só sabemos que somos reféns. E que sem as máquinas poderosas e céleres que vão aonde vamos, somos ninharia.

E então o passado vem me provocar.

Em que um dia tinha exatamente 24 horas e as primeiras doze horas, pareciam ser um tempo de inúmeras tarefas a cumprir, todas elas com prazo longo para serem executadas e o dia se arrastava lindamente. Não era necessário correr e nada nos deixava na mão, porque tudo estava na mão. Era só trocar uma pilha, repor a fita, trocar a lâmpada, consertar o aparelho.

Nossos passos eram mais comedidos, aproveitando a travessia. Nossos pensamentos eram ordenados com simplicidade de quem tem uma vida inteira para viver. Nossa fome de tudo era moderada. Não lotava nossos estômagos nem nossa mente com excessos. Tudo slim. Já naquele tempo sabíamos precisamente o que significava “slim” - muito antes de chegarmos no agora.

Tempos mais enxutos de tanta coisa a se pensar. Mais magros de alimentos. Mais romances e amores a dar chance. Tempos de poder pensar em refazer tudo ou muito.

Na velocidade da luz, não temos mais tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Verinha ,

Adorei toda a super safra.

Cada vez melhor, como sempre.

Rabicho do Céu ? de onde veio

isso ? bj

Gosto amargo

  Girei os calcanhares com gosto amargo na boca travando meu raciocínio para reconhecer o espaço de tempo que ocupo desde há muito e que hoj...