sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O efêmero

 


Todo dia eu acordo com o lápis de ponta fina e cabeça de borracha alinhado ao meu caderno de capa dura me olhando de revés, apenas esperando minhas ordens para começar a trabalhar não importando se estou desperta, de olhos bem abertos, com sorriso nos lábios e pés na areia. Para ele, enfileirado e aprumado, se houver algum sinal que não é isto que está se passando na minha cabeça se inicia a revolta dos soldados de grafite que acabam se atirando no chão quebrando o caprichoso preparo da manhã comunicando que não há espaço para distrações enquanto o tempo ruge como um leão.

Já perdi as contas de quantas vezes, mesmo estremunhada, sentei-me e me dispus a observar a Vida teimosa e airosa que se acomoda logo ali em frente, assim que a noite se pinta de cor de rosa, chama o sol, o vento, a maresia e quem mais por ali estiver disposto a se aprumar, agindo em conluio com os agentes grafitados.

Neste dia não foi diferente porque a temporada do morno, da leveza e da brisa fraca embalando a espuma do mar, está em pleno vigor, deixando todo o entorno sem pressa, afinal, a ordem é esticar as pernas dando uma e outra passada de pés descalços aproveitando os raros momentos de andarilhar por aí sem cordões.

Foi sem surpresa que resolvi voltar minha atenção para todas as flores que seguiam formando a borda colorida do caminho se alternando com capricho na mistura de cor e tamanho com um desafio de beleza que somente a natureza Divina pode realizar.

A trilha caprichosa que o clima idealizou tem data para findar marcando o efêmero da natureza e da vida igualmente. O tempo aquecido vai chegando de mansinho, derrubando a seiva pulsante de muitos atores floridos, muitos elementos verdejantes vão sendo calcinados desde suas hastes parecendo que o tempo áureo vai se esvaindo por entre todos. Nós, seguimos de dedo em riste  apontando o irrelevante como fugidio.

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