Vou fazer uma caminhada onde
meus pés nada alcançam e não haverá rastro de mim em nenhum lugar, na areia, no
asfalto e na pedra deste território de vento costeiro onde, aos solavancos, vou
escolhendo a cada dia uma máscara com um tema diverso, podendo ela vir com
sorriso no rosto, cinismo no olhar, graça no assunto e até mesmo deboche. Eu me
apresento frente a elas já no início do dia e as vou envergando conforme a
ocasião, a data, o dia, o ano.
As passadas que vou
engendrando por aí vão aos poucos sumindo porque os diversos rostos em que me
apresento serão o suficiente para entabular todos os assuntos que vem a mim,
quer eu queira quer não. O destino do argumento me escraviza, porém, a mente
não aceita nada que o meu coração negue e reage – exatamente igual ao corpo
humano em seu funcionamento – e por entre as linhas tortas no escondido vou
reescrevendo e facilitando o entendimento para mim mesma.
Ao chegar no final da jornada
caprichosamente vou descartando a tralha facial a que fui submetida e as
enfileiro em plena desordem para que se desacomodem, afinal, amanhã será outro
dia duro de fala mansa. A primeira a cair é sempre a da concordina, a segunda é
a do esquecimento voluntário, a terceira é a da surpresa e a última é da
indignação que derrete na minha cara o que sobrou.
A noite se acomoda com seu
manto escuro se adonando do espaço não havendo para onde fugir e é justo nesta
hora que a minha fala em alta voz decide se expressar sem cuidado entre quatro
paredes. Meu sexto sentido vem avisar que estou protegida por paredes de
tijolo, porém, há que se atentar para existência da fresta oculta com ouvido
afinado que sequer mostra a que veio. Me parece que, no fim e ao cabo, sou uma
guerreira dentro da Vitrine da Vida.
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