terça-feira, 2 de setembro de 2025

A espreita

 


Valter havia acordado cedo naquele dia porque estava pensando na Maria Estela, aquela moça da esquina que lhe chamava a atenção por ser – ou parecer – delicada e muito tímida o que lhe causava uma ansiedade fora do comum, talvez por ter um temperamento que navega por todos os humores causando, muitas vezes, uma certa estupidez ao tomar algumas atitudes. Por este motivo, hoje, mesmo com a possibilidade de estar na janela para ver a moça passar ele resolveu que tentaria frear sua ansiedade fazendo pausas entre um suspiro e outro cadenciado com o seu coração.

Com este pensamento em mente tentou entender qual seria a importância de ver a moça passar sem poder alcança-la para uma prosa já que a timidez dela invadia sua mente e acontecia um suspense dentro de si que travava suas pernas, embaçava os olhos, aturdia seu coração que ora quase parava, ora acelerava sem controle. Resolveu sair da janela e sentar no banco de jardim, bem perto do muro, ficando à espreita, olhando vez ou outra para o relógio, imaginando que ele deveria avisar o grande momento em que ele despertasse para abordá-la.

A espera se alongava, seus olhos iludidos fazia a rua parecer muito maior do que realmente era e, em seu pensamento, aguardava o momento certo para lançar-se a sua frente, acenar, talvez assobiar e, finalmente entabular a conversa. Valter lutava para conter o devaneio que o invadia todos os dias na mesma hora. Hoje decidiu que iria ao encontro de Maria Estela como se fosse o herói da rua, lhe faria uma pergunta boba, uma conversa fugaz sobre o tempo e na sequência pediria para lhe acompanhar. Encorajado pela expectativa de finalmente dar o primeiro passo colocou-se do outro lado do muro ajeitando seu melhor sorriso e após todo este prumo, ao levantar a cabeça, estava em frente a Maria Estela.

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