Perdi o gosto por tanta coisa
que tudo se confundiu dentro de mim e anda bem difícil que eu consiga entabular
aquela conversa interminável comigo mesmo frente ao espelho havendo, para mim,
duas certezas: já sei a resposta ou invento alguma coisa para acabar com a fala
desabrida naquele momento. Aproveito e coloco no meio deste diálogo de si para
si algum cinismo, uma piada boba, um comentário filosófico retirado do boteco
da esquina fazendo assim um retrato falado das minhas invenções diárias.
Resolvi então listar as coisas
que eram importantes para mim e que me deixaram como se tivesse havido um bafo de
maresia e o resultado foi o deserto da minha alma aflorado e imperceptível a
olho nu. Agora tenho a opção de sair da frente do espelho utilizando artimanhas
de que disponho quando uma grande inapetência me invade.
Não demorou nem um minuto para
aparecer frente a mim aquela amizade de tantos anos que a distância empanou no
tempo deixando perdido o que restava da intimidade, das risadas, dos passos
acelerados e convivência com intuito lúdico e travesso assim acontecendo sem se
perceber, tal qual a brisa repentina vinda não se sabe bem de onde.
Na sequência deste raciocínio
surgiu a figura de um lugar que até hoje reverbera em suas paredes histórias de
outro tempo, quando a juventude foi arrefecendo cautelosamente, os laços do
entorno perderam força, as falas emudeceram, os braços inertes caíram ao lado
do corpo acompanhados por um olhar que tentava enxergar ao longe, muito longe.
Por último ele apareceu e
iluminou minha alma deixando um perfume no ar, o tom de voz, a boca ensaiando
um sorriso exatamente como devia ser em algum tempo. Mas, assim como tudo o que
eu perdi o anseio, este efeito se evaporou na luz do espelho.
Me dei conta que depois desta
reflexão meu paladar se apurou, coloquei o espelho atrás de mim, pintei um novo
cenário a minha frente e considerei receber uma conversa qualquer, um espaço diferente
que pudesse, desta vez, abrigar apenas um abraço em meio ao abajur de luz
difusa.
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