Não
sei bem quando ou onde me perdi, me deixando levar como se fosse uma desgarrada
folha solta ao vento, batendo e me ferindo em redobradas muradas, planando na
vida sem rumo. Mas assim foi e fiquei deste jeito meio abusado de recolhimento,
somente na observação do entorno e esquentando a cabeça, pelo sim e pelo não.
Quanto
mais mergulhada no silêncio, mais apurado o ouvido apreendendo o que quer que
seja. O olhar é embaçado mas se aguça e enxerga bem de todas as distâncias e os
julgamentos não são tão doentios quando o pensar se arrasta como uma lesma
viscosa. Virei uma assombração e um fantasma de mim.
Assim, transparente, me facilita vagar pelo olhar
indiscreto que espiona meu dia a dia a cada passo meu, me obrigando a agir como
se a vida fosse uma brincadeira de esconde-esconde. Aproveito e fotografo na
retina uma vista aérea da vida, atualizando a topografia dos problemas,
retirando da toca as soluções ou simplesmente deixando de lado o que não dá
para definir. Agora.
Resolvo
encarar o que vem pela frente, mas, antes, preciso olhar para trás para ver se
dou de cara com quem eu sou e estabeleço a conexão perdida. Achei difícil
entrar neste feitio apertado, nesta bagunça cotidiana com ruídos infernais
parecendo que todas as vozes e estalidos habituais do mundo e da natureza estão
em formação de uma orquestra de loucos. Percebo que nada mudou muito na minha
ausência voluntaria e a experiência de ser névoa foi interessante apesar de
considerar que ser diáfana é maçante.
Que
saudades de mim.
Um comentário:
Você nos leva por uma viagem leve, sutil e, ao retornar, nos tira um sorriso de seu modo irreverente de considerar a experiência de transcendência. Muito bom! [sorrio] Com tempo, deixe sua impressão no meu http://jefhcardoso.blogspot.com Ficarei honrado!
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