Depois de uma viagem real para algum lugar, ou, mesmo uma
saída espetacular da realidade, vulgo “viajar na maionese”, voltar para casa é
a redenção.
A casa, que ficou vazia de você, aguarda calmamente o momento
em que retornas, para lhe devolver a vida. E você entra nela carregada de uma
bagagem extra. Trazida de caminhos desconhecidos até então.
E haja lugar pra encaixar tanta lembrança. Não queremos que
nada fique de fora.
Então, vamos fazendo as escolhas.
Os prazeres da mesa irão para o freezer, lugar perfeito para
acondicionar em potes imaginários, os especiais aromas e paladares. Pois, de
vez em quando, ao abrir o acondicionado eles voarão em nossa memória.
Os vinhos fantásticos sorvidos na melhor companhia de si, da paisagem
ou de alguém próximo e de outros, nem tanto, são descritos na caderneta de
anotações do médico para relatar na próxima consulta. Precisamos que ele nos
diga: no
fígado, a senhora não tem nada.
As compras feitas por impulso vão pra caixa fechada, tudo bobagem.
As aquisições elaboradas, como o porta-retrato furtacor, o lenço de seda
macio e colorido, a xícara de porcelana, a pashminna, o perfume, terão lugares
de honra no closet. Serão as quinquilharias da hora e estarão sempre à mão para
serem usadas, trazendo as boas lembranças do encontro em que uma se mostrava à
outra, se oferecendo.
As fotos serão reveladas na maneira mais antiga para que,
fisicamente, se espalhem pela casa, dando um ar de vida em dia. Vida
atualizada. Vida bem bacana.
Os diálogos, as palavras soltas, se transformarão em escritos e quem
sabe cada uma, separadamente, com seu significado renda uma crônica, um conto,
um poema ou um texto qualquer. Mesmas palavras e vários vieses.
As pessoas
– personas conhecidas – neste último caminhar ficarão
presas na caixa eletrônica de Outlook com seus e-mails redigidos
carinhosamente. E talvez, com o passar do tempo, esquecidos. O telefone
fornecido é o celular, esta máquina da surpresa, que te tira de qualquer lugar,
em qualquer momento, sem a menor cerimônia. Com certeza ficará relegado ao
esquecimento, pois lhe faltará intimidade para acioná-lo, se sentir saudade.
O perfume e os ares de onde andaste a esmo vêm impregnados na tua
roupa. Porém, partirão impiedosamente ao serem lavados com os perfumes usuais
da casa. Sendo assim, está reposta tua rotina de cheiros. Eles ficarão, apenas,
na ponta do teu nariz. Fechando os olhos, o recebes de volta.
Os amores conquistados nesta viagem estão no fundo do coração.
A casa te aguarda, bem arrumada e limpa para o repouso de todas as
emoções.
O coração se deixa
ficar, quieto.
Escrever para viver e viver para escrever. A inspiração é o meu objeto de desejo a cada amanhecer e assim minha alma fica fortalecida no encontro do silêncio e da natureza marítima. Leiam com bons olhos! Mail para contato: verarenner43@gmail.com Vera Lucia Renner
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Voltar para casa
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2 comentários:
Vera
Li as tuas ultimas crônicas.
Acho que estás atingindo um novo patamar.
Sugiro mostrares algumas para um editor ou jornalista.
Creio que elas valem pelo menos uma coluna no jornal.
Afinal voce pôe a Marta Medeiros no chinelo.......
Beijos
Carlos
Verinha! Cada vez melhor, sempre e sempre. Este voltar tem muitos significados, bem sabes! O melhor de tudo é voltar pra gente mesmo. Bom poder divagar em cima das tuas palavras.
beijo grande!
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