Eles vieram a mim bem juntinhos, como eu
queria, se parecendo muito fisicamente e desde sempre um completava o outro. O
mais velho já parecia intuir a fragilidade da vida, dos caminhos já prescritos
e por esse motivo se adiantou muito ao caminhar, ao falar corretamente e eu
agora tenho certeza que ele já sabia que não podia perder tempo em tropeçar nas
letras e saiu articulando suas histórias ainda bem pequeno.
O olhar era surpreendente com uma cor azul tão
intensa e profunda que me deixava inquieta me fazendo tomar uma distância
daquele olhar – hoje eu sei – que parecia estar sempre se despedindo ou talvez
pedindo perdão pelo que seria nosso futuro tão curto juntos.
Era criança apressada, tinha insônia, vagava
pela casa a noite, via televisão que naquela época era em preto e branco, via
novelas e as entendia, se apaixonava na pré-escola como se adulto fosse fazendo
a corte como antigamente, ofertando uma rosa, fazendo uma declaração e querendo
sempre ter a companhia da menina objeto de sua paixão. Ninguém entendia, mas
ele sim.
Com o irmão menor se colocou como interprete e
traduzia todas as suas palavras, interpretava o muxoxo de desagrado assim como
suas lágrimas, me alertando o que se passava na alma do irmão. Até o olhar do
pequeno era revelado em palavras me fazendo correr para consertar meu desaviso
ou acudir na sua mágoa ou necessidade. Tantas e tantas vezes me voltei ao
pequeno para perguntar algo mas a resposta veio do irmão mais velho com o olhar
complacente e sorriso cúmplice do menor.
E chegou o dia em que ele partiu afoito e sem
aviso, deixando um vácuo em nossas almas que até hoje persiste apesar do
empenho em celebrar a convivência de um anjo em nossas vidas, mesmo que por tão
pouco tempo. Daniel era o nome dele.
Um comentário:
Boa tarde!! Sempre que leio cronicas de vera me sinto estigada a no minimo pensar em algo relevante em minha vida mas hoje alem de tido isso que senti ainda mexeu com o mais profundo de meu ser o amor eterno .lendo a cronica OS DOIS.
Postar um comentário