quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Avatar

 


Vou colocar meu avatar e andar por aí sendo outra, uma que nunca fui, quem sabe. Uma nova forma que me deixaria diferente e talvez nem bem do meu agrado, só para experimentar como viver em outro corpo ou fantasia e  conferir a serventia. Quem sabe vou atrair novas fábulas, seres de melhor calibre e talvez, menos amores aflitos. 

Uma cabeça diferente, com outros pensamentos, olhares diversos do que eu estou acostumada a olhar, ouvidos mais sagazes para ouvir o que nem penso em escutar. Viver por aí como tantos. 

Vestimentas que não apontam para onde vou nem de onde venho mas que me deem conforto térmico e de movimento. 

Mãos hábeis para outras tarefas que não seja bater nas teclas com determinação e intermitência pois que elas são minha extensão. 

Pernas mais curtas e lentas nas passadas, aproveitando outros caminhos ou trilhas de menor passagem com desvios não tão radicais. 

Este avatar me faria ter menos força de atitude, intensidade e escasso calor humano me colocando tudo de menos. 

Sendo outra, e fantasiada, não iria usar as  palavras como se minhas fossem e nem a escrita como recados que sequer foram solicitados.

Quem sabe uma testa sem pensamento nem fundamento somente existindo se plugada em outras instâncias. Um ser etéreo, avoado, uma mulher impossível.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Dial da vida

 


A cadência há muito havia sido estabelecida e as agulhas do tempo se firmavam sempre no mesmo ponto, marcando com rigor o ritmo da vida de Hélio, que seguia com precisão os protocolos que a desejada trajetória havia se imposto. Ele não lembra direito o tempo exato em que os ajustes do seu futuro foram deliberados, se foi ele que muito cedo se adonou do propósito ou se o dito cujo se chegou a ele como quem não quer nada, se instalando como se por ali não houvesse alternativa, provavelmente o deixando sem saída. Ele tem para si a certeza de que a bruma do futuro não se dissipou cedo como talvez fosse esperado.

Sabia-se apenas que a batida dos ponteiros rotineiros era clara e com uma alternância de objetivos bem definidos mantendo a linha do caminho a ser seguido, não ousando ele jamais se referir ao seu trem de pouso como perseguição. Não é de bom tom acossar nada, apenas caminhar e conquistar. No inicio, ele não tinha conhecimento das pedras no caminho e se lançou com o afinco de sua personalidade a fazer e refazer quantas vezes fosse necessário o caminho ladrilhado por todos.

Todas as manhãs Hélio analisava o campo de batalha e com maestria escolhia as armas com que iria a campo, uma vez que, muitas vezes, palavras davam conta do recado, em outras a atitude firme e peremptória de quem sabe para onde vai era a escolhida. Em determinados momentos o recuo se apresentou e estrategicamente foi utilizado, mas sabendo ele que estava apenas preparando o salto. Deste jeito ia sendo feito o ajuste das pedras no caminho e as que precisavam ser removidas o eram com precisão, outras recebiam um retoque de posição e tantas se acaçapavam para que o caminho ficasse livre.

O dial estabelecido por nosso herói não se movia daquela estação parecendo que não haveria modo algum de uma posição que não fosse a apontada. Foi neste período que variáveis começaram a ocorrer e a estação escolhida anos atrás apresentava certo ruído, uma mudez persistente muitas vezes e recusa de se deixar sintonizada naquela estação ocasionando verdadeira confusão nas estratégias que se desalinhavam junto ao mundo que arfava.

A trilha escolhida dava sinal de deterioração, havendo aqui e ali exigências descabidas para o avanço deixando pasmo quem por ali transitava. A palavra e a conversa não resolvia o que fosse necessário, a soberba, o achaque e o despudor na utilização de estratégias perversas ocorriam ocasionando uma inversão de valores que muito devagar foi revolucionando o andar para o futuro.

Por fim, o dial emudeceu.

Hélio despertou com um amanhecer lento e morno e se viu sem direção ao perceber que o Dial de uma vida dava sinais de estafa, de queima de válvula  e de escurecimento do arcabouço que o mantinha ativo. Percebeu a oportunidade e foi embora.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

A ligação - O conto

 


Maria Da Graça acordou naquele dia lacrimejante e com um buraco no estomago como há muito não sentia. Depois da surpresa com seu estado, pensou melhor e se deu conta que nos últimos tempos esta sensação lhe acompanhava sorrateiramente, no balanço do seu pensamento que também anda vagaroso. Ela acredita piamente que daqui para frente sua cabeça vai acompanhar a lentidão dos velhos chinelos de inverno.

De quando em quando espia por entre os ombros porque parece que alguém anda lhe chamando em alta voz por seu nome. Assim, um pouco premida pelo dia resolve se assentar junto a sua melhor companhia e mergulhar no mundo real e assim talvez seja possível afastar quem anda lhe cercando, seja do lado de cá da vida, seja do outro lado...

Vagando entre tantas informações ao checar seu e-mail se depara com uma mensagem que a faz grudar os olhos na tela dando looping em seus neurônios – contrariando seu estado de espirito ao amanhecer - inclusive com o sangue parecendo se esvair do rosto, e, o coração no peito dando mostras que resolveu trabalhar de verdade neste dia, reverberando de norte a sul do seu corpo o bate bum.

Maria da Graça iniciou neste momento uma viagem para frente e para trás porque tanto poderia ser alguém a quem já confiou tudo de si, alguma ou pouca coisa ou alguém totalmente desconhecido o que traria mais precaução fazendo com que ela, não soubesse se apagava, deletava ou bloqueava o autor da missiva surpreendente. Surpreendente sim porque ao invés de dizer um “Bom dia Maria da Graça, como estás, te encontrei na internet, lembra-se de mim? Sou o Jose Paulo, te ...” Simples não? Nada, nem sombra de uma escrita corriqueira.

Respirou fundo, alongou o olhar para o horizonte marítimo esperando que ele lhe ajudasse a descobrir quem estava por detrás daquelas três simples palavras. O problema não era a curta mensagem, mas o furor sentimental que arrombava os sentimentos deixando Maria da Graça à deriva.

Resolveu deixar de lado o assunto porque na internet as arapucas vagam como fantasmas e ciladas a esta altura não são bem vindas. Melhor será se dedicar um pouco à escrita o que favorece demais porque o show da vida - por força das circunstâncias - tem que continuar. Liberou-se de pensar no tema, mas, mesmo com todo esforço, as três palavras a perseguiam em todos os cômodos da casa. Voltou a sentar frente ao computador, abriu o e-mail novamente e nem bem lhe tinha colocado os olhos em cima lembrou: Jose Paulo!

Agora a situação se agrava porque Maria da Graça não sabia direito se poderia responder perguntando se ele era ele, pois ele poderia se ofender ou, muito pior, não ser ele! Valentia nunca foi o forte de Maria da Graça, gostava de andar no entremeio, preferia ouvir a falar, gostava de acantonar-se em seu refugio escolhendo ficar quieta a retrucar, sorrir e sair.

Porem, alguma coisa lhe dizia – pensou em seu mal estar matutino – que as lembranças que adviriam da resposta deste mail lhe fariam enxergar o agora com melhores olhos. Quem sabe?

A resposta foi tão mínima quanto a pergunta. “É o Jose Paulo? Da viagem?” e o enviar selou a conversa online. Nem bem havia passado alguns minutos e a resposta veio confirmando a suspeita. Maria da Graça não sabe ate hoje o que foi que aconteceu com suas lembranças porque o passado entrou de sola como um tsunami em sua cabeça, não a abandonando mais e deste jeito facilitado pelo mundo novo, passado e presente começaram a conversar animadamente.

Amiga das letras lá se foi nossa heroína a colocar no papel este encontro além de enfiar-se dentro de gavetas e resgatar tantas fotos quanto pode, não crendo que lembranças tão doces – essa era a única palavra a ser usada – ainda pudessem ser resgatadas.

As conversas entre Jose Paulo e Maria da Graça tomaram um ritmo não muito intenso, no início, diria que protocolares, a respeito da vida de um e outro, afinal, 43 anos o separavam do cara a cara, mas nos diálogos, o tempo de certo modo não estava presente. Ela, em algum lugar ermo se comprazia com uma vida onde menos é mais e ele, igualmente, veja só. Geograficamente se situavam em costas diferentes, sendo uma onde as águas esfriam o ambiente e o outro estava em uma cidade onde a natureza tinha o poder de torrar seus habitantes o que causava inveja de um que gostava do frio, e outro, do calor.

De repente, em dia inusitado havia um telefonema e ao ouvirem-se se davam conta que a voz, o trejeito da fala, o riso e as ideias em nada mudaram. Após a ligação terminar Maria da Graça caia em prantos porque ficava imaginando que talvez tenha se enganado, mas, rapidamente enxugava os olhos dizendo para si mesma que o que foi, foi mesmo.

Anos se passaram nesta troca de mensagens até que – novamente a tecnologia – mudou a conversa para uma comunicação instantânea o que levou, obviamente, os sentimentos de ambos à flor da pele por mais que um encontro era impossível. De um lado a liberdade e de outro o compromisso. A constância dos recados levou a um contato quase diário, como de enamorados que em todo momento pergunta como você está, o que fez, o que vai fazer, o que vai comer, por onde andas, e mais o que a imaginação criar.

Jose Paulo, por qualquer motivo, nesta altura, pranteava o afastamento de ambos no passado, questionava porquês à Maria da Graça e lhe enviava sistematicamente todas as musicas – de preferencia da cultura espanhola – que lamentavam o amor perdido e impossível com certo ar lúgubre, intenso e lindo. Neste item Jose Paulo era exímio, possuía em sua biblioteca musical as mais lindas musicas que faziam Maria da Graça se encantar. Assim transcorriam os dias, iluminados por mensagens de carinho e sonorizadas com as melhores letras deixando a rotina de ambos preenchida – por um lado – com a esperança de um reencontro – e por outro com certa retranca ao assunto o que de qualquer maneira os deixava animados no antagonismo de opiniões celebrando – e aproveitando – este encontro virtual.

De repente, as mensagens pararam e Maria da Graça - que se mantinha na distância e discreta - não realizou nenhum contato, mesmo intrigada. Passado um tempo bem longo ela timidamente se conectou nas mensagens rápidas e no mail enviou um link de suas crônicas e não recebeu nenhuma resposta iniciando agora um processo de desconstrução da ilusão. Mais um tempo se passou e a ligação para o telefone fixo que havia em sua agenda foi realizada e nada. Restava uma ultima opção. Desta vez a ligação se completou e a resposta foi avassaladora.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Zilah

 


Zilah acordou velha naquele dia e assim com surpresa, olhou o entorno para confirmar algum traço desta velhura que se achegava sem nenhuma cerimônia para perto de si, para dizer o mínimo. Nem abriu muito os olhos remelentos da noite porque poderia ser que o que sentia fosse apenas uma sensação e não uma realidade. Ficou ali, deitada, tentando entender o que se passava, porem, tudo parecia apontar para uma transição relâmpago, entre sua vida de moça para sua vida de velha.

A começar pelo levantar-se da cama que pareceu a ela uma eternidade ate conseguir ficar de pé. Na lembrança bem recente, aliás, a rotina era pular da cama e correr para o chuveiro e mais mil coisinhas pequenas a se fazer antes de se jogar para a rua, se maquiando e arrumando o cabelo no carro mesmo, na parada de sinaleiras, e como o transito naquele horário era trancado, podia, além de se arrumar, atualizar-se de tudo o que rolava no mundo. Na palma da mão o mundo se ajoelhava. Parecia um lapso de uma memoria recente estes fatos.

Ao sentar-se na cama e posicionar seus pés no chão notou que eles caíram perfeitamente sobre um par de pantufas peludas e quentinhas, o que a surpreendeu, pois não era acostumada a ter ao chão chinelo organizado para ser calçado. Ficou com mais uma pulga atrás da orelha e de certo modo sombria. O que mais esta manhã vagarosa estaria lhe aprontando?

Zilah não se deu conta que o que  estava acontecendo era pouco frente ao que estava por vir.

Enfim resolveu que já era hora de abrir bem os olhos e levantar-se, porém, ao fazer isso percebeu em seu corpo uma relutância em conjugar ossos, músculos e articulações para que enfim pudesse dar os primeiros passos naquela manhã gelada, mas que pensando bem, assim o era fazia algum tempo, mas havia confusão de tempo ali.

Sua mente estava acelerada e o recado que enviava ao seu esqueleto recentemente desperto era de ir! Mas, algo a deteve e depois de um pensar mais detido deu-se conta que o corpo físico – arrisco em proferir - não andava conversando com a mente e assim, com um modo esdruxulo de falar, um mandava e outro não obedecia. Que sinuca de bico a Zilah se encontrava, ao erguer-se sentiu a recusa da ossada de se juntar aos músculos, a mente a intenção de andar, a cabeça de raciocinar e as pernas a obedecer.

Finalmente estava de pé e avançou alguns passos bem coordenados dando a sensação que tudo voltara a ser como antes, porque apesar de certas dores a envolverem como um todo, a mente estava tinindo, o que lhe deu a alforria dos pensamentos brumosos do inicio da manhã.

Andou um pouco mais e se surpreendeu com um detalhe. Ao olhar em volta percebeu a casa vazia e por mais que articulasse os nomes dos familiares, apenas o eco do salão principal lhe respondia o que, de pronto, não lhe causou maior preocupação. Afinal, dias corridos fazem com que todo mundo se evada de casa logo ao amanhecer sem oportunidade de articular um até logo para quem quer que seja. Zilah estranhou seu atraso nesta manhã e tentou lembrar porque não havia saído à rua como todos da casa haviam feito. Não lembrou.

Continuou a arrastar os chinelos e com mais medo do que coragem foi verificar como as coisas estavam no restante da residência. Alarmou-se porque descobriu que aquele não era o lar em que havia passado tanto tempo de vida. O lugar era pequeno, mas bem distribuído e todos os objetos e móveis que teve apreço em toda sua vida ali estavam muito bem arrumados, com os retratos da família e livros postos em lugar muito nobre e de fácil acesso.

Desta vez achou por bem não espantar-se. Alguma coisa lhe dizia que a impressão de tão cedo pela manhã ao despertar não estava de todo errada. Sim, acordou velha. Riu-se da sua demora em acreditar na intuição matutina ou, quem sabe, do sonho da noite que lhe trouxe os arroubos da juventude à baila. Não importa.

Assim, pé-ante-pé dirigiu-se à salinha exígua onde fazia as refeições. Com capricho escolheu a toalha um pouco amarfanhada e amarelada do tempo, ergueu sua taça de vinho para brindar ao fim que andava por perto, mas que afinal não havia chegado ainda e aí, nesta hora perfeita, percebeu uma companhia oculta. Tim-tim.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Entre elos

 


Nesta andança entre as muretas da vida ando cismada com o tanto de corrente  - físicas e imaginárias - que circulam por ai, algumas me cercando com fúria, outras frágeis a um simples olhar e tantas outras encadeadas de palavras, atitudes, assuntos, histórias e o mais que se imaginar, rendendo boa reflexão, muitas vezes em momentos que o desejo é apenas de ficar em silencio, solitariamente na companhia do mar.

Impossível não entender que o cerco das palavras vem em primeiro lugar, muitas vezes não dando a perceber se vem a galope, montado em alguma injúria, voando na asa da controvérsia ou a par e passo com a falta de respeito generalizado.

À primeira vista parece apenas um grande emaranhado, mas, observando com mais vagar a percepção é de cercas vivas e atuantes junto ao mais delicado sentimento e que pode ocasionar um desvio no tempo de agora, um pensamento comovido, uma tristeza, uma decepção.

Romper o grilhão que se apresenta fora de contexto vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, aliviando o panorama no entorno, deixando que novamente e mais uma vez prevaleça o encantamento de perceber a renovação do bem em volta de si com o tempo passando leve e sintonizado neste lado da cerca.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Chegou a tralha

 


Finalmente chegou o caminhão de mudança, aquele escolhido a dedo pois o que será carregado contém preciosidades de uma vida, ocasionando uma nostalgia pelo simples fato de que algo possa ocorrer nesta mudança de lar. O reposicionamento dos objetos e móveis alertam para a virada de chave que está prestes a acontecer causando um impacto significativo na rotina e no seguimento do tempo.

O processo se inicia com a premência da alma pela mudança e a ideia fica batendo como um sino na cachola e deste modo contumaz e obsessivo as coisas da casa começam a perambular pela mente que tenta de qualquer maneira encaixar tudo, algumas coisas, depois quase nada tudo no próximo passo.

Na alma precisa ser acomodado todos os sentimentos, os bons, os contraditórios e os espinhosos não havendo permissão para esquecimento. Eles farão parte da costura entre uma fase e outra da vida como um véu divino.

No caminhão da verdade, amontoadas as traquitanas, na hora da partida se engalfinharam na posição de liderança da carga o que resultou na batalha de o que devo deixar para trás, o que devo levar, se instalando o drama dos mutantes. Ao fim e ao cabo fica apenas o relevante afetivo físico com a alma plena de espaço. Bem-vindo.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Apenas um café

 


Dias tórridos neste canto do fim do mundo onde a praxe é a paz e a brisa parecendo que nem uma nem outra está dando as caras, deixando a prainha virada em masmorra de sol.

Encilhei um compromisso comigo mesmo em que nada no mundo me faria desistir pois a premência era um encontro para um café com uma amiga que de mim precisava – e eu dela. Me fui com a certeza que eu saberia ser heroica em qualquer circunstância, o que não se confirmou parecendo uma falsa coragem travestida de teimosia.

A cada passo nestas ruas incendiadas o meu corpo doía calcinado e nada que fosse vivo por ali estava com a consciência em dia muito menos a sanidade. A minha alma, ah, esta coitada andava beirando sair do corpo. Considerei que a hora não havia chegado. Corri para uma sala de café com ar refrigerado à espera.

Enfim ela chegou, fresca como a atmosfera do outono, sorridente e leve, me pareceu diferente. E estava. Sem suador, bronzeada levemente, batom   rosa, vestia uma túnica indiana esvoaçante, joias de acordo e o cabelo branco harmoniosamente atado num laço de fita. 

Nem esperei muito e já fui contando da minha insistência no encontro neste tempo do verão em que até os peixes nadam para o fundo do mar. Falei num fôlego que eu tinha vindo pessoalmente lhe pedir perdão.

Passado o susto, pois ela não lembrava do fato a conversa foi se desenrolando para um mundo extra, entre um café, um quindim, outro café e um pão de queijo ela foi costurando uma narrativa de um tórrido romance de meia idade com detalhes de um filme “Noir” com passagens travessas. Ao fim e ao cabo de uma hora de narrativa, arregalei os olhos, me espantei, me assustei, contive o riso. Finalmente pensei: minha amiga é louca, não, ela está no modo calcinado do sol, não, vou rezar por ela. Não! ela está apaixonada!

Nos despedimos e combinamos de nos encontrar no inverno bem rigoroso.

Fio desencapado

  Estava tudo igual com a pasmaceira dos dias passando, o sol nascia e descia com variação de tempo conforme a estação, o mar com sua muta...