Dias tórridos neste canto do
fim do mundo onde a praxe é a paz e a brisa parecendo que nem uma nem outra
está dando as caras, deixando a prainha virada em masmorra de sol.
Encilhei um compromisso comigo
mesmo em que nada no mundo me faria desistir pois a premência era um encontro
para um café com uma amiga que de mim precisava – e eu dela. Me fui com a certeza
que eu saberia ser heroica em qualquer circunstância, o que não se confirmou parecendo
uma falsa coragem travestida de teimosia.
A cada passo nestas ruas
incendiadas o meu corpo doía calcinado e nada que fosse vivo por ali estava com
a consciência em dia muito menos a sanidade. A minha alma, ah, esta coitada
andava beirando sair do corpo. Considerei que a hora não havia chegado. Corri
para uma sala de café com ar refrigerado à espera.
Enfim ela chegou, fresca como
a atmosfera do outono, sorridente e leve, me pareceu diferente. E estava. Sem
suador, bronzeada levemente, batom
rosa, vestia uma túnica indiana esvoaçante, joias de acordo e o cabelo
branco harmoniosamente atado num laço de fita.
Nem esperei muito e já fui
contando da minha insistência no encontro neste tempo do verão em que até os
peixes nadam para o fundo do mar. Falei num fôlego que eu tinha vindo
pessoalmente lhe pedir perdão.
Passado o susto, pois ela não
lembrava do fato a conversa foi se desenrolando para um mundo extra, entre um
café, um quindim, outro café e um pão de queijo ela foi costurando uma
narrativa de um tórrido romance de meia idade com detalhes de um filme “Noir”
com passagens travessas. Ao fim e ao cabo de uma hora de narrativa, arregalei
os olhos, me espantei, me assustei, contive o riso. Finalmente pensei: minha
amiga é louca, não, ela está no modo calcinado do sol, não, vou rezar por ela.
Não! ela está apaixonada!
Nos despedimos e
combinamos de nos encontrar no inverno bem rigoroso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário