quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Uma prece

 

Naquele dia eu não resisti e me ajoelhei perante a vida imaginando que talvez ela considerasse prestar atenção em mim neste dia importante em que eu parecia desperta para algumas verdades, estas mesmas que me espreitavam por detrás da bruma dos anos e que se enfileiravam mansamente diante de mim dançando a valsa da paciência e eu, mesmo assim, não prestava atenção devida.

Ao me colocar em prece esvaziei minha alma e deste jeito simplório me coloquei ao dispor do mundo espiritual que gravita em torno de todos não expressando claramente suas intenções justamente por serem divinas.

Há neste momento de esvaziamento do real a oportunidade de reciclar nossos sentimentos bordejando pela simplicidade da atitude, da aceitação de todas as coisas, da separação do bem e do mal, avaliando o caminho a ser seguido, coragem para deixar questões, antes importantes, para trás e por fim renovando a fé na Vida que Deus nos brindou. Aleluia.

domingo, 20 de outubro de 2024

Amélia, a Aquariana

 


Não precisa de motivo para ela, que habita o Aquário da Vida onde todos os matizes do Universo se encontram e, como se isso não bastasse, ensina a todos a navegar suavemente por todos os assuntos baixando muito a voz ao se referir ao mal feito de um ou de outro parecendo que se inclina a perdoar antes mesmo de se inteirar.

Para esta Aquariana transparente e generosa a existência aqui na Terra é um brinde divino e deste modo saibamos agir com parcimônia, paciência e franqueza diante de todos a cada nascer do sol.

Além destas características intrínsecas e nobres que seu nome e seu signo lhe conferem sua feminilidade transborda se tornando a guerreira do dia a dia que permeia todas as faces do cotidiano atravessando com bravura e independência suas lutas e seus ideais.

 A presença da vizinha de porta Amélia nos verões vem quebrar a monotonia que habita este quadrante pequeno bem em frente ao mar. A presença suave decanta os ventos intempestivos do inverno, as chuvas intermitentes, a ressaca do mar indomável neste tempo de estações controversas.

Por aqui ando ansiosa na espera do calor, do sol e do Novo Ano que vai trazer a Amélia e sua família à Beira Mar. Que bom!

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Rede de vizinhança

 

Dei apenas uma volta e ao dobrar a esquina topei com um paredão de concreto armado, com aparência de um mosaico com variada forma construtiva, colocado lado a lado tornando o espaço uma assombrosa divisória de cimento e ferro.

Fico imaginando o propósito da inusitada muralha. Talvez uma competição de quem consegue se sobrepor ao outro, tornar sua identidade famosa, abrigar mais espaço interno do que seus comparsas ou até quem sabe tenham tido todos a sensação de segurança em tempos difíceis, ou se apoderar de uma facilidade para vigiar a vizinhança que somente um amontoado incrível de prédios de todos os tamanhos pode oferecer, afinal ali se encontra sacadas, janelões que devassam os ambientes, coberturas a céu aberto e jardins coletivos. Tudo pronto.

É de se imaginar em qual janela o sol baterá primeiro, qual veneziana se abrirá ao olhar do mundo que congrega aquele circuito diferente e em contrapartida, o que e quem estará à espreita do recém chegado aos primeiros acordes do dia. Uma batalha de aberturas se entrega à faina dos olhares avizinhados numa fúria avassaladora de espreitar tudo e todos.

Acredito que esta exaltação da visão de grupo virá acompanhada pela imediata busca das telas de todos os tamanhos e tipos com uma sofreguidão de eternizar a hora e empanturrar a mente com todas as letras minúsculas e maiúsculas que anda circulando nos cabos invisíveis do universo.

Nesta maçaroca de vida não há espaço para o sol e a lua serem percebidos mansamente, não há recinto físico para que a brisa da floresta, do mar, do rio, do lago permeie por ali, o perfume da chuva na terra jamais conseguira galgar os degraus do amontoado de prédios sem alma.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Preciosidade

 

Este dia amanhecido de trás para frente me trouxe algumas preciosidades que andei ocultando de mim mesma imaginando que elas se perderam em algum período não estando mais acomodadas no baú do esquecimento naquele canto de portas trancadas. Porém, o fato aparentemente esquecido toma vida própria e se arremete tal qual este dia que surgiu em modo esquisito.

Com cuidado e curiosidade tomei coragem e abri a porta emperrada daquele espaço diminuto e úmido que vertia guardados de antanho e logo surgiram objetos, livros, caixinhas de preciosidades, bonecas, diários aferrolhados, soldadinhos de chumbo, bolas de gude, dados e tantos outros objetos que ao receberem a luz do dia renovaram acintosamente sua existência tomando corpo mais uma etapa.

A poeira fugiu alarmada, as relíquias tomaram forma sob a benção do sol e se ordenaram como fantasmas na berlinda do tempo. Lancei um olhar sobre todos e curiosa fui lembrando de cada período em que eles participaram do meu dia a dia de criança, trazendo de volta o tempo lúdico da minha vida.

Os guardados me surpreenderam e fui costurando as histórias encadeadas de um para outro me regozijando com o resultado construído, agora, definitivamente no túnel do tempo.

O pequeno pedestal de uma concha que abriga uma pérola me chamou a atenção para encerrar esta fábula. Ela nasceu a partir de uma trajetória tramada em intrusas tristezas, mágoas, desavenças e sofrimento o que forjou um novo caminho cheio de alegria e esperança.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Nas asas do tempo

 

O tempo, esse contador de histórias, ainda não ordenou ao clima que se organizasse e colocasse ordem no barraco da praia e por este motivo jovens e velhos andam à toa na areia e na calçada úmida, ora procurando as ondas do mar que maldosamente renega os corajosos com suas ondas geladas e  revoltosas impossibilitando ali se banhar e deste modo bem covarde enveredam de pronto para aquela poltrona em frente à lareira cobrindo-se com um velho xale de crochê colorido esperando com paciência que os ponteiros do relógio andem mais ligeiro.

O relógio da vida, porém, é caprichoso e mal humorado e para alguns se move com preguiça aligeirando o ponteiro para o que não se deseja e nem se pretende enxergar e, na contra partida, atrasa seus segundos de propósito se divertindo ao perceber a expectativa em alta de humanos, natureza, fauna e flora para que a contagem das horas se acelere.

Os bichos querem nascer logo, as flores desejam despontar ao sol, os pássaros e insetos anseiam por asas renovadas e assim a natureza desperta fora de hora, os pássaros cantam apesar de ainda ser noite, as flores nascem dando de cara com o frio,

Todos correndo sem saber direito o destino importando apenas seguir com ligeireza para o depois que sempre parece mais longe tornando assim os caprichosos segundos da vida mero refém do desejo.

sábado, 5 de outubro de 2024

Na profundeza

 

A superfície perfeita da vida anda de vento em popa apresentando todos os dias o sol nascente, o mar com seus chiliques, o vento brincando com todo mundo, ora arrancando tudo do chão ora queimando a mufa do incauto caminhante de rua.

 É sempre a mesma coisa, tudo dentro do previsto com o imaginário correndo por fora professando benesses, escondendo o caos, lembrando que é melhor andar em frente sem olhar para lado nenhum, sem fazer conta de cabeça e muito menos raciocinar a respeito do próximo passo uma vez que o tempo urge.

Passo largo e olho arregalado vai recolhendo o que parece ser demandado de importante, absorvendo a urgência do assunto posto em frente, mudando de ideia tão rápido como trem bala, se voltando contra o que sempre acreditou com uma avassaladora facilidade, largando pelo caminho aquela mochila com tantas preciosidades por força de surgir um caminho que, mesmo improvável, se traveste de apaixonante.

Paralelo à distração pré-fabricada se encontra na profundeza cristalina do cotidiano todos os ardis da desordem elaborados na madrugada silenciosa.

Sutileza dos tempos

Sinais inequívocos surgiram na sutileza do tempo, sorrateiros como a traição, ocultados da luz do dia inundando minha alma como a chuva frac...